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Mais uma contra a nossa privacidade

Que bom que a ministra Carmen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral -TSE- mandou cancelar o Acordo de Cooperação que a corte firmou com a empresa Serasa-Experian, para fornecer a esta dados dos 141 milhões de eleitores brasileiros. Seus dados, meus dados, nossos dados, que somos compulsoriamente forçados a colocar à disposição, por ser o voto obrigatório no Brasil.

Estranho, muito estranho, que o TSE tenha firmado um convênio dessa natureza com uma empresa que vive da venda de informações sobre a capacidade e idoneidade de crédito de pessoas físicas e jurídicas. Mais estranho ainda é que esse convênio não passou pelo plenário do Tribunal, nem mesmo por algum de seus membros para validação.

Não faz muito tempo ficamos boquiabertos com a arapongagem da NSA americana, ao interceptar dados de ligações telefônicas e conteúdos da internet de bilhões de pessoas, brasileiros inclusos. Isso gerou repulsa da sociedade e o Brasil representou na ONU contra essa atitude do governo Barack Obama.

Com que argumentos agora poderá o poder público -no caso, o Judiciário- explicar esse convênio?

Que medidas serão tomadas para evitar a repetição dessas traquinagens no futuro?

O que garante que não existam convênios semelhantes com outros órgãos públicos que detêm dados dos cidadãos brasileiros?

Felizmente temos uma imprensa livre e vigilante, com radares sensíveis, capazes de levantar a lebre, como fez o jornal O Estado de São Paulo.

Mas o assunto da privacidade do cidadão, nesse mundo conectado, voltou à tona, e de um modo que surpreende a maioria. A Justiça Eleitoral brasileira é respeitada mundo afora, e seria um dos últimos bastiões da guarda dos valores essenciais da democracia e da liberdade do cidadão.

Logo ela dá esse mau exemplo? O que se espera agora, no mínimo, além do cancelamento do acordo, é uma explicação clara e transparente dos motivos que levaram à celebração desse convênio e que mecanismos serão adotados pelo TSE para evitar que o sigilo dos dados dos milhões de eleitores brasileiros seja novamente ameaçado.

Quem quiser ver o Acordo, aqui está ele: Acordo de Cooperação Técnica TSE nº 07_2013 – TSE e Serasa.

Afinal, eles realmente sabem de tudo sobre nós?

Google is watching

Capa da revista “The Independent”

Pensei em falar sobre algoritmos, sobre nossa concordância com os termos de uso e políticas de privacidade dos grandes portais e redes sociais, do tal do Big Data, mas, mesmo assim, o assunto não seria esgotado em uma simples postagem. Então, fui para um exemplo prático:

Peguei dois aparelhos conectados à internet, abri os browsers e fiz buscas simultâneas no Google.

Tentei “Óculos de sol“. Tive o cuidado de colocar os argumentos de busca iguais em cada dispositivo (um PC e um iPad) e dar enter ao mesmo tempo. Os resultados foram bem diferentes, em cada aparelho. Os links patrocinados também vieram diferentes.

Depois fui de “Arroz com feijão“, e, do mesmo jeito, os resultados da busca foram diferentes no PC e no iPad

Descontadas as frações de segundo decorridas entre buscas iguais através de dois aparelhos diferentes, com sistemas operacionais diferentes, o que ajuda a explicar porque “Óculos de sol” e “Arroz com feijão” não são iguais no iPad e no PC são cookies armazenados em cada aparelho e hábitos de navegação, armazenados nos servidores do Google.

Como o Google armazena tudo, ou quase tudo, ele pode direcionar os resultados de buscas de acordo com o que ele assume sejam suas preferências, ou, por razões comerciais, atendendo aos interesses dos anunciantes.

Você pode reproduzir esse exercício com argumentos de busca próprios, que também darão resultados diferentes quando você usa o Facebook, o Twitter, ou acessa qualquer dos grandes portais.

Resumo da ópera: Sim, essa turma sabe muito mais sobre você do que você imagina. Mesmo sendo você uma exceção à regra que costuma ler e entender as políticas de privacidade e os termos de uso de cada um desses serviços. Afinal, ao concordar com eles, você também concorda que eles possam mudar as regras a qualquer momento, sem aviso prévio.

Parar de usar? Nem pensar. Mas cuide com o que você posta e por onde você navega.

No dia da independência americana, empresas da Web protestam sobre arapongagens da NSA

Neste 4 de julho, os americanos comemoram a independência do país do domínio inglês. É uma data celebrada com muito civismo, quando são lembrados os fundadores da nação e os princípios fundamentais consagrados na Constituição. Inclusive os da liberdade individual e da privacidade.

O inusitado neste ano de 2013 é o protesto coletivo de grandes empresas da internet, como a WordPress (plataforma de blogs) e a Fundação Mozilla (criadora do browser Firefox), contra as ações secretas da NSA, que fizeram -e seguem fazendo, tudo indica- um amplo programa de monitoramento de ligações telefônicas e do uso da internet por cidadãos mundo afora, aí incluidos os americanos.

Anúncios na TV aberta e paga também estão sendo veiculados, a exemplo de um video que já rola no YouTube, chamando a atenção dos americanos sobre a violação, pelo governo, da 4ª emenda à Constituição, justamente a que assegura aos cidadãos o direito inalienável à privacidade.

Embora as gigantes Facebook, Apple, Twitter, Verizon e Google não façam coro nesse episódio, elas já haviam criticado essas medidas anteriormente, mas de forma discreta, muito mais para dar satisfação a seus clientes, mais de 1 bilhão deles. Foi mais para explicar que elas forneciam dados para a NSA sob ordens judiciais secretas, que acabaram vazando por artes do ex-colaborador Edward Snowden, através de reportagem do Daily Telegraph britânico.

A mobilização corporativa pela internet contra ações do governo não é coisa nova, nos Estados Unidos. Mas essa contra a arapongagem da NSA está ancorada na grande e aparentemente infindável discussão sobre a essência da liberdade que a internet representa contra a missão que o governo tem na luta contra o terrorismo.

Enquanto isso, Julian Assange, o vasador-mor do WikiLeaks segue há meses abrigado na embaixada do Equador em Londres, e Edward Snowden aguarda desde 23 de junho, no aeroporto de Moscou, a concessão de asilo político já feito a vários países.

É de lá que Snowden ameaça fazer novas divulgações sobre as artes da NSA, em carta dirigida ao presidente Rafael Correa, do Equador, conforme mostrou a agência Reuters.

Mas qualquer que seja a repercussão do protesto das empresas no dia da independência americana, ou as novidades que possam ser reveladas por Assange ou por Snowden, parece que o contraponto liberdade x segurança foi alçado a um novo patamar.

Até George Orwell ficaria encabulado…

1984orwellAgora é oficial: Estamos sendo grampeados por agências de inteligência americanas e britânicas, no mínimo! Registros de ligações telefônicas, bases de dados das principais redes sociais e serviços online, tudo isso está sendo monitorado.

Os registros de todas as ligações telefônicas dos clientes corporativos da Verizon estão sendo entregues à NSA – National Security Agency  por ordem do juiz Roger Vinson desde abril deste ano. São chamadas locais, longa distância nacional e internacional. O furo inicial foi dado pelo jornal inglês TheGuardian, que inclusive exibiu cópia da ordem judicial secreta .

Na sequência, a Casa Branca admitiu as ações, por conta das medidas de combate ao terrorismo, e aparentemente, o monitoramento vai continuar e, quem sabe, também esteja sendo feito por outras organizações mundo afora.

Mas olhemos a coisa do prisma tecnológico: A internet, é bom lembrar, é a derivada civil da ArpaNet, uma rede comunicação entre computadores militares criada na década de 1960 por conta da Guerra Fria e da necessidade estratégica de blindar informações sensíveis que trafegavam através de redes comerciais de telecomunicações, como a AT&T nos Estados Unidos.

Com sua expansão para uma rede mundial, e a popularização dos celulares, bilhões de pessoas se conectaram. Liberdade, baixo custo, informação farta à disposição.

Do lado dos indivíduos, a banda larga por onde cada vez mais dados trafegam velozmente; custos de armazenamento em queda livre, e serviços ditos na nuvem cada vez mais populares; os processadores dos dispositivos digitais sempre mais poderosos.

Do lado das agências de inteligência, a realidade é a mesma: Rede rápida, processadores parrudos, armazenamento de dados em escala de zetabytes. E é bem mais fácil de fazer, pelo acesso antecipado às novas tecnologias. A pressão para grampear é grande, e se as agências oficiais não fazem, os bandidos podem sair na frente.

Em 1948, George Orwell escreveu 1984, onde antecipava com seu Big Brother um futuro com um ente central opressor, que sabia da atividade de todos os indivíduos.

A realidade de 2013, se pudesse chegar à tumba de George Orwell, faria com que ele desse boas reviradas de desconforto, ao verificar que sua imaginação não conseguiu ser suficientemente criativa na sua fantasia do futuro.

Google Glass pode ter reconhecimento facial. Já pensou?

gglassMatt Warman, Editor de Tecnologia do Consumidor do Telegraph de Londres mostra que o Google Glass poderá ter um aplicativo de reconhecimento facial. É uma possibilidade forte, talvez não como um aplicativo próprio.

O Google diz que seu Glass não vem com reconhecimento facial, mas essa solução está sendo testada pela Lambda Labs, parceira do Google há algum tempo. Sua tecnologia de reconhecimento facial é usada em muitos aplicativos que estão no mercado.

O Google já usa essa tecnologia desde o Picasa, um dos bons softwares de organização de fotos digitais.

A versão atual que vem sendo testada pela Lambda Labs faz quem o usa no Google Glass poder tirar fotos, adicionar tags de quem está nessas fotos, fazer upload delas para só então comparar as faces com as detectadas em fotos subsequentes.  Daí para o reconhecimento facial em tempo real é um pulinho, do ponto de vista tecnológico. Reconhecer de imediato as faces capturadas cotejando-as com bases de imagens próprias ou públicas é só evoluir os algoritmos, as velocidades de conexão e os serviços de imagens na nuvem.

E a demanda de mercado pode vir com tudo… Exemplos:

  • Você está meio desligado(a) e chega a uma festa cheia de gente, muitas das quais você nunca viu e outras tantas que talvez sejam conhecidas mas não dá para  lembrar o nome; inevitavelmente, uma delas chega e diz “oi, lembra de mim?“. Com o Google Glass versão reconhecimento, você não precisa mais fazer cara de paisagem e cumprimenta essa pessoa pelo nome, que aparece em uma legenda produzida pelos óculos. Dá, claro, para reconhecer quem é essa pessoa de longe e, se for o caso, adotar a postura do Leão da Montanha “saída pela esquerda [direita]…“*;
  • Um saguão de aeroporto ou outro local de grande movimento e potencial alvo de ataques terroristas: agentes de segurança com Google Glass esquadrinham o ambiente e podem interagir com aplicativos que acessam bases de dados de possíveis pessoas-bomba e tomar medidas preventivas, evitando tragédias;
  • Quem está no Facebook ou no FourSquare pode associar uma pessoa que está num lugar ao perfil dela na redes, e isso pode ajudar na paquera ou nos negócios;
  • As celebridades terão mais dificuldades ao enviar clones para aparecer em eventos obrigatórios enquanto elas se divertem em atividades privadas. Logo alguém com o Glass vai dar o grito “ela é um fake!”
  • Você vai poder ir a um jogo de futebol em uma dessas novíssimas arenas simplesmente comprando seu ingresso pela internet e, à entrada, as roletas vão reconhecê-lo pelo rosto e deixá-lo entrar no seu setor, na sua fila, na sua cadeira. E ainda comandam a entrega de sua pipoca e a sua bebida preferidas, na hora que você desejar.

No quesito privacidade, ela será fatalmente restringida por aplicativos desse tipo, e as querelas filosóficas e jurídicas serão enormes, antes de se chegar a algum marco regulatório. Dá até para especular os motivos que levaram o Google a não incorporar a tecnologia de reconhecimento facial ao Google Glass, num primeiro momento. Melhor para a empresa deixar o teste de campo para alguma empresa parceira e avaliar a aceitação, as restrições e os possíveis caminhos, já devidamente aplainados, para só depois entrar para valer.

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* Para quem não lembra ou não é dessa época, o Leão da Montanha era um personagem dos desenhos animados de Hanna & Barbera, muito esperto, mas avesso a brigas, que, quando via algum perigo de ser caçado pelo coronel dizia “saída pela direita [esquerda]!” e saia correndo de cena.

Da série Liberdade X Controle 6: Você está incomodado com o Facebook?

Já ouvi e recebi muitas mensagens de pessoas incomodadas com a chamada “orkutização” do Facebook, especialmente com o recebimento de muito lixo nas suas linhas do tempo, por vezes com mensagens lindas, porém inúteis.

O que talvez essas pessoas não saibam é que elas próprias são responsáveis por isso, por não cuidar de suas contas.

O Mashable publicou um estudo que mostra que 13 milhões de donos de contas do Facebook sequer mexeram nos seus parâmetros de privacidade. Ou seja, nem sabem que o Facebook tem uma política de privacidade que muda com o tempo.

Pior: 250 milhões de pessoas (cerca de um quarto dos usuários) partilham seus dados com uma audiência muito maior do que aquela de seus círculos de amizade, criando uma exposição arriscada que pode trazer sérias dores de cabeça.

Ainda mais agora que o Facebook  liberar para quase toda sua base de clientes o mecanismo de busca social por grafos (Graph Search), o potencial de exposição indesejada aumenta, pois ele vai a fundo em todos os dados das mais de um bilhão de contas e retorna resultados a partir de perguntas feitas em linguagem natural, comum.

Por exemplo, posso perguntar ao Facebook “quais amigos curtiram o Festival de Teatro de Curitiba?” Do ponto de vista de usabilidade, é bem mais fácil do que usar o Google.

Então… para aproveitar essa ferramenta e outros recursos do Facebook ao mesmo tempo em que você protege o básico de seus dados pessoais, veja como seu perfil está configurado, o que você quer mudar e, especialmente, gaste um tempo para ler a política de privacidade do Facebook vigente. É interativo, tipo perguntas e respostas e tira dúvidas que você possa ter, além de ensinar como manter o seu perfil protegido do jeito que você gostaria.

Tem gente que se irrita com o Facebook e acaba cancelando a conta, para depois se arrepender. Melhor do que buscar restabelecer uma conta desativada é tê-la a seu serviço.

Como a maior rede social do planeta, o Facebook tem inúmeros atrativos, principalmente o de ser o melhor caminho para você encontrar na internet as pessoas e os assuntos de seu interesse.

Lembre-se também que os dados que você publica ou deixa publicar em seu perfil ficam armazenados no Facebook e nos diversos escaninhos da internet, as buscas do Google que o digam! Então, ter um mínimo de discrição é importante, porque  o que você diz por lá tem o potencial de atingir um bilhão de pessoas, direta ou indiretamente.

AppleCop em NY; Em Breve, Nos Melhores Pontos do Planeta!

A perspectiva de sermos todos explicitamente monitorados por conta dos recursos da tecnologia digital me desperta desde sempre visões conflitantes entre a privacidade e a segurança.

Para quem leu o 1984, de George Orwell (ou viu o filme, tanto faz), parecia que nada daquilo iria ocorrer e, ao contrário, a liberdade apresentada pela internet impediria para sempre a existência de um estado policialesco.

Pode ser, mas a notícia da colaboração da Apple com a Polícia de New York (NYPD) para ajudar na recuperação de iGadgets roubados é, no mínimo, instigante, quem sabe, preocupante!

Eu já usei o recurso Find My iPhone para encontrar meus iGadgets ou mesmo para bloquear um iPad que eu possa ter deixado aberto em algum lugar, mesmo que seguro.

Lendo a matéria do Mashable com atenção, consigo entender algumas coisas boas:

  • A Apple procura valorizar seis produtos à medida em que aumenta a taxa de recuperação dos iGadgets roubados;
  • A NYPD tem seu trabalho facilitado e tornado mais eficaz, e os primeiros resultados mostram isso;
  • A vida dos ladrões fica mais complicada;
  • O problema de furtos e roubos de aparelhos de valor com conteúdo de maior valor ainda passa a ser tratado pela comunidade, como uma PPP (Parceria Público-Privada);
  • A experiência de New York pode ser replicada para outros lugares, aumentando a segurança dos usuários que, normalmente, zanzam mundo afora.

Mas existe o outro lado dessa história:

  • A Apple talvez saiba mais sobre nossa vida digital do que gostaríamos de admitir;
  • Essas informações podem ser usadas de muitas maneiras que sequer imaginamos;
  • O que vale para a Apple também se aplica aos Google, Facebook, Twitter e outros menos visíveis;
  • O arcabouço legal hoje disponível está a milhares de anos-luz atrás do desenvolvimento dos produtos e serviços digitais, e essa distância vai aumentar ainda mais, num futuro previsível;
  • Supondo que tanto a Apple quanto a NYPD façam parte dos mocinhos dessa trama, nada impede que os bandidos digitais possam fazer a mesma coisa com nossos iGadgets e seu conteúdo;
  • A experiência de New York pode ser replicada para outros lugares, aumentando a exposição dos usuários que, normalmente, zanzam mundo afora.

Será que ainda há tempo hábil para estabelecer um modelo onde segurança e privacidade estejam jogando no mesmo time?

 

Cúmulo da Ironia: Entidade de Defesa do Consumidor "Ataca" o Consumidor

Recebi uma chamada do call center da Proteste, que se diz entidade de defesa do consumidor. Eles usaram meus dados obtidos em algum lugar para tentar me vender seu peixe. Como uma entidade que prega a defesa do consumidor pode comprar listas de nomes para vender seu peixe?

Já não bastasse a quantidade de chamadas que recebemos a partir de scripts que surgem nas telas dos(as) sofridos profissionais, que trabalham muito e ganham miséria, agora essa entidade de defesa resolve jogar no ataque.

Esses aspectos de proteção dos dados pessoais sempre estão no topo das prioridades quando se discutem, por exemplo, os Termos de Uso e Políticas de Privacidade de redes sociais ou portais de compras. Normalmente aceitamos esses termos sem lê-los, e é possível que essa entidade tenha agido dentro da lei, por ter obtido meus dados em um cadastro de alguma empresa onde eu “concordei”, sem ler, com a cessão dos mesmos a terceiros.


Como fazer para evitar aborrecimentos como esse, não só da Proteste e não só para mim?