Arena da Baixada, 14/5/2014: E aí?
A Copa do Mundo vai se aproximando, e os testes Brasil afora apontam para magníficas Arenas, mas ainda sujeitas a ajustes, mesmo aquelas já testadas na Copa das Confederações, em 2013.
Nesta quarta, 14 de maio, foi a vez da Arena da Baixada, em Curitiba, do Atlético Paranaense. Como atleticano e como fuçador de tecnologia, fui lá conferir, junto com familiares.
Aqui um resumo das minhas impressões:
O estádio ficou lindo! a chegada foi meio complicada, ainda mais com o horário do jogo coincidindo com pico do rush da tarde, somado à chuva e às restrições de tráfego. As calçadas do acesso estão ainda por terminar, e tomara que fiquem boas para os jogões da Copa, como Irã x Nigéria, que pretendo assistir para ver ao vivo um pouco do futebol global…
Depois de passar pela revista, entrar no estádio é um primor. Múltiplas catracas eletrônicas, muita gente de apoio, corredores largos e o acesso às arquibancadas muito fácil e rápido. Fiquei no andar de cima, onde as cadeiras são razoáveis, mas o espaço para circular sem incomodar os vizinhos é coisa para equilibrista.
A visibilidade do campo é magnífica, de onde quer que se esteja. Iluminação muito boa, acústica perfeita, o caldeirão volta a funcionar, com uma torcida entusiasmada.
Fotos, vídeos, músicas, começa o jogo. O Furacão com aquela juventude toda começa a colocar pressão no rival Corinthians, até que o craque Marcelo faz 1 x 0! Festa!!
Depois disso, só mesmo discutindo tecnologia. Não porque o mistão visitante ganhou de 2 x 1, mas porque… ahã, afinal, aqui temos um blog de tecnologia.
O que chamou a atenção de muita gente foi o mini-drone com câmera de TV voando sobre o campo, a alturas variáveis, desde rente ao campo até acima da cobertura. Fiquei com inveja do operador do drone. Um dia, ainda vou brincar com um. Mas, para mim, fica óbvio que os drones chegaram para ficar, nas transmissões de grandes eventos, esportivos, musicais, políticos.
Há pouco mais de 2 meses, um drone construído por um curitibano sobrevoou a Arena, ainda com muito por fazer, e filmou o interior da obra, até então resguardada da curiosidade da imprensa e dos fãs de futebol, por decisão interna da diretoria do Atlético. Iniciativa individual, que bombou no YouTube.
O que deixou a desejar –conforme antecipado– foi a rede celular no entorno e dentro da Arena. Lá fora, na fila para entrar e falar com outras pessoas exigia muitas tentativas e pouco sucesso, independente da localização, da operadora e da tecnologia disponível no aparelho: Edge, 3G, 4G, WiFi. Estava pior do que o transito e as calçadas. E nada indica que vá melhorar, em dia de jogo da Copa com o dobro de público.
E, por último, mais um gap tecnológico para nós: a Sony anuncia uma potencial parceria com uma operadora de TV por assinatura para transmissão dos jogos usando a tecnologia Ultra HD, ou 4K, que tem 4 vezes mais nitidez do que a atual Full HD (o dobro de pixels na horizontal X o dobro de pixels na vertical).
Se isso ocorrer, poucos serão os que poderão ver imagens melhores e mais nítidas, porque são poucos e caros os televisores no padrão 4k no Brasil. Quem não tem e eventualmente se arriscar a pagar para ter, vai necessitar de um conversor, da mesma forma que foi necessário um para adaptar os televisores analógicos para receber imagens digitais.
A FIFA terá vídeos 4k da Copa no Brasil. Alguns países receberão imagens também em 4k. É parte do Padrão FIFA.
Voltando ao futebol, o Atlético Paranaense perdeu por 2 x 1. Resta o consolo de termos o primeiro gol anotado por um atleticano, o jovem e talentoso Marcelo Cirino. Como tudo na vida é um processo, agora o Furacão tem um belo estádio, Padrão FIFA. Falta construir um time competitivo. O jeito é esperar…
TV4k vai ter para o Brasil?
Você gosta do Vaio? Saiba que a Sony não mais
Com a notícia do fim da produção de desktops e notebooks pela Sony, lá se vai mais uma marca tradicional, ícone de qualidade e design: a Vaio. Não que essa divisão vá desaparecer, uma vez que foi vendida para um grupo de investimentos japonês. Mas a tradição associada à marca Sony acaba!
Também a divisão de televisores será tocada por uma nova subsidiária da Sony. De um lado, dá para ler-se “vamos produzir TVs a custos menores”, mas a companhia anunciou planos de focar esforços de pesquisa, desenvolvimento e design nas telas maiores e na tecnologia Ultra-HD, ou 4K, capazes de comandar margens maiores.
Isso também ajuda a Sony a buscar mercados mais sofisticados para seus produtos de imagem, voltados ao consumidor final e ao mundo corporativo.
A Sony acredita que o mundo dos dispositivos móveis tende a crescer em quantidade e variedade, e este passa a ter foco e prioridade.
Sem esquecer sua bem sucedida linha de produtos para games, Playstation à frente.
A Sony segue também uma tendência de marcas tradicionais, como a IBM -a primeira que lançou um PC de 16 bits com sistema operacional da Microsoft- e acabou vendendo tudo para a chinesa Lenovo, inclusive a marca de seus cobiçados Thinkpads.
Os televisores, mesmo não querendo, já são comandados pelas coreanas LG e Samsung, que ditam as tendências.
No mundo dos games, o trio Sony-Microsoft-Nintendo já mostra que essa última está sem fôlego, e o conceito de consoles proprietários para games parrudos vai perdendo força para os Apps de smartphones e tablets.
Mas não deixa de haver um certo toque de nostalgia na notícia do final da linha Vaio para a Sony. Talvez seja isso apenas, pura nostalgia.
Games para todo o mercado
Quando a Nintendo lançou o Famicom, 30 anos atrás, estava oficialmente dada a largada para o bilionário negócio dos games digitais. Antes disso, a Atari e centenas de fabricantes de pequenos joguinhos de mão e produtores de televisores colocavam no mercado produtos de alcance limitado, preço alto, que, por uma série de motivos, nunca chegaram a uma indústria de massa, quebradora de paradigmas.
O mercado de consoles cresceu, consolidou-se e tem hoje dois grandes players e um lá atrás: Sony e Microsoft brigam pela dominação e a pioneira Nintendo mal e mal chega à medalha de bronze. O resto não conta.
Mas o mercado mudou. PCs cada vez mais parrudos, e, mais recentemente, smartphones e tablets viram plataformas de jogos, usando a internet como meio e liça de lutas virtuais.
A demanda por games explode. Cursos rápidos até teses de pós-doutorado tentam atender o mercado e a falta de profissionais para criar futuros games. No Brasil, várias empresas passam a lançar produtos para as plataformas mais relevantes.
Hoje em dia, oportunidades para profissionais são amplas e variadas, de programadores a designers de idéias, como vimos recentemente numa proposta nova dos finlandeses: os Angry Birds, primeiro conjunto de games específico para dispositivos móveis com múltiplas versões grátis. Mercado aquecido, todo mundo usando ou falando dos passarinhos zangados.
A partir daí, cria-se uma grife poderosa capaz de lançar, em escala global, uma série de produtos licenciados que começam com as réplicas de pelúcia de cada um dos personagens a parques temáticos, passando por desenhos para a TV, brinquedos de montar, refrigerantes, roupas e acessórios, kits para festas infantís…
Provavelmente, os Angry Birds não vão dominar o mundo, nem serão o caminho definitivo para a indústria dos games.
Mas, com certeza, com a popularização de tablets e smartphones, o esforço para conquista de market share passará, obrigatoriamente, pela produção de games para essas plataformas, e não só para lazer. Surgem opções para educação, treinamento, e reciclagem pessoal e profissional, simuladores para os mais diversos usos. De aviões e carros ao corpo humano para os profissionais da saúde.
Se eu fosse apostar em um novo caminho para games, eu iria na direção de uma criação coletiva, um crowdsourcing de games bem específicos, como o GeneGames.
Isso é tema para muita discussão!
O Bóson de Higgs e o encanto das ciências para os pequeninos
Por este blog Conectados passam comentários sobre tecnologia -digital, na maioria das vezes- pautados pelo sub-título Tecnologia que mexe com a cabeça e com o bolso. Na maioria das postagens, tratamos de lançamentos, tendências, comportamento digital.
Mas hoje vamos fazer uma saudação especial à ciência, ou Ciência, com C maíusculo. Ao decidir premiar com o Nobel de Física o escocês Peter Higgs e o belga François Englert, a Real Academia Sueca de Ciências reconhece a relevância da pesquisa desses dois cientistas que chegaram à conclusão teórica de que haveria uma minúscula partícula sub-atômica, o bóson (que depois adquiriu o sobrenome do escocês), que daria uma explicação de como a energia se transformava em matéria.
Menos de meio século após a formulação da teoria, os dois puderam vê-la confirmada, após profundas investigações no CERN, o laboratório de pesquisa nuclear que fica debaixo dos Alpes, entre a Suíça e a França. Faltou o terceiro formulador da teoria, o também belga Robert Brout, falecido em 2011.
A teoria dos Bósons, por sua vez, foi apoiada em outra, a da Relatividade Especial, formulada por Albert Einstein, em 1905, 98 anos atrás…
Einstein estava certo na quase totalidade das suas premissas da Teoria da Relatividade. Aonde havia discrepâncias, suas hipóteses e teses também apontavam para o que seria a moderna Física, que tanto progresso trouxe para a humanidade, das aplicações da medicina nuclear aos novos materiais como os nanotubos de carbono, passando pelos semicondutores que tantas transformações trouxeram ao nosso cotidiano.
Aquela famosa equação matemática, , também de Einstein e prestes a completar 100 anos, explica a relação entre energia e massa.
E, como sempre achamos que o tempo passa cada vez mais rápido, dá para concluir que, ao menos no caso do Nobel da Física de 2013, o tempo passou rápido, pois o meio século entre a teoria e a premiação é um intervalo muito curto, se levarmos em conta a evolução do conhecimento humano.
O que nos traz à reflexão sobre a inserção do Brasil no mundo avançado da ciência e da tecnologia: precisamos não só de programas como o Ciência sem Fronteiras. Urge resgatarmos a transmissão aos nossos pequeninos do charme e do encanto dos números, pela matemática, e da nossa relação com o universo, explicados em boa parte pela física e pela química.
Se o apelo emocional não funciona, vamos ao bolso: físicos, químicos, matemáticos, geógrafos e estatísticos estão entre os mais requisitados e bem pagos, não só em universidades e centros de pesquisa, mas também em empresas estelares como o Google, o Yahoo, a Apple, a Intel, a Qualcomm, a Samsung, a Sony, a Exxon, a Petrobras…
IFA 2013: O quente é Wearable Technology
Quando acaba o verão no hemisfério norte, acontece a IFA – Internationale Funkausstellung, em Berlim, Alemanha. É uma grande feira de gadgets eletrônicos que, este ano, apresenta muitas de novidades da maioria dos grandes fabricantes digitais. Ausente a Apple, que faz seus anúncios a partir de Cupertino, nesta terça. A Nokia, recém adquirida pela Microsoft e as gigantes chinesas ZTE e Huawei estão lá, mas apenas para marcar presença.
Assim, a ação e a atenção estão com os fabricantes de televisores com a tecnologia Ultra HD, que demora para chegar aqui, e com os super relógios digitais capitaneados pelo Samsung Galaxy Gear e pelo Sony SmartWatch 2, além de outros modelos menos cotados. Ambos correm atrás do mesmo público, os absolutamente fanáticos por novidades tecnológicas e as legiões de fãs das duas marcas asiáticas. E devem custar entre 200 dólares e 200 euros.
Os dois relógios de pulso mostram que a imaginação de Chester Gould, o autor de Dick Tracy, nos quadrinhos de 1940 finalmente virou realidade: Um relógio com múltiplas funções ,de comunicação a localização que pode até mostrar as horas. O espaço anunciado para o iWatch, da Apple, acaba sendo ocupado pela concorrência.
Ambos os smartwatches fazem o tipo cebolão, com displays de quase 2″. O Galaxy Gear sincroniza redondo com os smartphones mais modernos da Samsung, tem câmera para fotos e vídeos, acelerômetro para monitorar malhação, pode tocar música, dar previsão do tempo…
O SmartWatch 2 é um Android, como seu concorrente, e sucede, claro, o 1, que nem apareceu nas paradas de sucesso de gadgets. O 2 promete conversar com smartphones de várias marcas. Tem conexão NFC (Near Field Communication), que pode ser o futuro padrão para compras digitais.
Junto com a chegada a conta-gotas do Google Glass, que pretende criar a realidade aumentada da visão, esses relógios, cheios de funcionalidades, sinalizam que a tal da Wearable Technology chegou para ficar. Ainda sem nome definitivo em inglês, e sem uma tradução convincente para o português, esse neologismo agrupa produtos digitais que vamos vestir ou usar, no futuro, como hoje fazemos com óculos, relógios, sapatos…
Mas a IFA 2013 também mostra gadgets inúteis, e nesse quesito, a francesa Alcatel leva a taça: um controle remoto para smartphone… Já pensou????
TV Ultra HD é para valer
Você está feliz com sua telona de TV de alta definição, cheia de funcionalidades que você talvez nem use, mas que exibe imagens de tirar o fôlego, ainda mais se ela estiver acoplada a um sonoro home-theater?
Pois saiba que foi dada a largada em massa para o padrão Ultra High-Definition, com telas ainda maiores e com 4 vezes mais pixels do que o padrão da TV digital, o 1080p. São 4.096 x 2.160 pixels, contra os 1.920 x 1.080 da resolução Full HD.
O que parecia um lance de marketing dos japoneses e coreanos, deu o primeiro salto de preços –para baixo-, e agora a coisa vai. Enquanto que há um ano atrás, as telas entre 65″ e 85″ comandavam preços que iam de US$ 25.000 a US$ 70.000, e, portanto, atraiam apenas os curiosos com generosos saldos bancários, agora os principais fabricantes de televisores começam a apresentar produtos com preços inferiores a US$ 10.000. Lá fora, claro, mas sinalizando uma tendência de virar padrão que se sobreponha ao FullHD de hoje.
As vantagens do Ultra HD ficam óbvias quanto maior for a tela, desde que o conteúdo de imagem esteja também em altíssima definição. E começam a surgir telas ultrafinas, com tecnologia OLED, que não só consomem menos energia e exibem brilhos e contrastes impressionantes, mas possibilitam que elas tenham uma leve curvatura, como nas telas de cinema, que vão possibilitar melhor visão de vários ângulos.
Sony, Toshiba, Panasonic, LG, Samsung e a eterna Philips estão no jogo. Mas quem deu a largada na queda de preços foi a japonesa Sharp, que já foi inovadora no setor mas andava meio encolhida por conta de sucessivas gestões equivocadas.
E no Brasil, como fica a TV Ultra HD, se nem acabamos de implantar a TV digital Full HD? E conteúdo em ultra alta definição, e as licenças, as emissoras, vão nessa?
A resposta é sim, o UltraHd virá para cá, mas não já. Mas cuidado! Você pode comprar gato por lebre! Já existem lojas aqui no Brasil ofertando televisores que seriam 4K/Ultra HD. Não são. Nem há transmissão em Ultra HD ainda.
Prenderam os Hackers do LulzSec
O Lulz, como é chamado no mundo do crime digital, é formado por pequenas células, em vários países, que dedicam-se a atacar grandes ou importantes sites, por conta de causas supostamente nobres.
Esses jovens são Jake “Topiary” Davis, Ryan “Viral” Cleary, Mustafa “T-Flow” Al-Bassam e Ryan “Kayla” Ackroyd. Eles foram presos no ano passado, depois que Hector Xavier “Sabu” Monsegur, o suposto líder do grupo, tornou-se informante do FBI.
Dentre as artes praticadas pela turma está a captura e divulgação de 1 milhão de contas e senhas de clientes digitais da Sony, a derrubada do site da CIA americana e da Serious Organized Crime Agency (SOCA), uma agência britânica de repressão ao crime.
E nós, brasileiros, o que temos com isso? Esse é apenas um dos grupos identificados e presos. Antes disso, seus pares australianos também foram parar atrás das grades em abril.
Como disse, o LulzSec, usando a internet como arma e plataforma de comunicação, tem membros em vários países, Brasil inclusive.
O crime digital, que vem crescendo e se tornando cada vez mais visível mundo afora, já é responsável por percentuais de dois dígitos do total de desvio de dinheiro, e a sofisticação dos atos desses hackers está sempre um degrau acima da prevenção e da repressão.
Como tem gente que acha divertido saber desse milhão de pessoas que tiveram seus dados divulgados e queimou a imagem da Sony, ou então ficam do lado do bandido quando alguém faz artes com agências de inteligência, cabe lembrar que você pode ser a próxima vítima.
Desistir da internet ou, pelo menos, não mais fazer compras em lojas de e-commerce ou voltar ao velho talão de cheques? Não precisa chegar a tanto… Basta tomar os cuidados básicos de não divulgar dados pessoais, senhas e, ao usar redes Wi-Fi públicas e abertas, evitar essas transações de compras e pagamentos, salvo se você dispuser de recursos sofisticados de criptografia.
No caso da Sony, os hackers entraram na base de dados dos clientes usando algoritmos avançadíssimos, talvez mais para provar que eles podem ser os melhores do que buscando algum benefício financeiro, uma vez que eles simplesmente abriram os dados e os divulgaram na internet.
Em situações como essa, a empresa que tinha os dados sob sua guarda é responsável legal e pode ser acionada.
Mas, para ver o lado bom da coisa, os hackers que há poucos meses eram considerados heróis pelos contestadores do establishment, agora começam a ser condenados e presos.
Um outro grande vazador da internet, o Julian Assange, do WikiLeaks, está isolado na embaixada do Equador, também em Londres, no aguardo de um improvável asilo político, ou de uma extradição para a Suécia por conta de crimes de assédio sexual que ele teria cometido por lá. E o WikiLeaks, que tanta dor de cabeça causou a governos e empresas mundo afora, parece desidratado, sem capacidade de novos vazamentos.
Revolução X Resolução
A curiosidade era grande. Para variar, a Apple montou uma estratégia de sigilo e dissimulação sob controle, ou seja, criou a expectativa com o lançamento do que seria o iPad 3 (iPad HD, iPad Plus), fez o habitual sigilo “total” com vazamentos seletivos através de analistas e jornalistas conhecidos, excitou a imaginação dos blogueiros e, enfim, lançou nada mais, nada menos que o Ipad e a Apple TV.
Mas a grande questão era, e foi parcialmente respondida: Como seria o primeiro grande lançamento da Apple na era pós-Steve Jobs?
Os lançamentos em São Francisco, acompanhados globalmente, não decepcionaram, mas também não chegaram a mostrar muita coisa realmente nova, embora Tim Cook tenha afirmado que o novo iPad redefiniria a experiência do usuário com o tablet. Não é exatamente isso que saiu, mas também não foi uma decepção.
A chamada na página principal da Apple usa um termo muito bem sacado para o iPad novo: Resolutionary, ou uma brincadeira com as palavras Revolutionary e Evolutionary.
A Apple aposta na maior resolução como o centro da inovação para este ano. Ela é quatro vezes mais pixels por polegada do que nos já excelentes modelos anteriores, mas nada de revolução. É exatamente a mesma do iPhone 4.
Aí vem o processador mais rápido, o A5X, um processador gráfico de 4 núcleos, mais memória principal e uso da tecnologia celular 4G, esta ainda não disponível entre nós, e sem prazo para aparecer.
A Apple TV ficou no extremo conservador das expectativas. Os mais entusiasmados preditores usaram até as palavras de Walter Isaacson, o biógrafo oficial de Steve Jobs para inferir que a empresa da maçã finalmente entraria no mundo das TVs de tela grande (o iTV), para concorrer com as gigantes Sony, LG, Samsung e Philips. Nada disso. O que houve foi a evolução da pequena caixinha preta que serve de media center e custa (lá) US$ 99 e um monte de R$ (aqui) para um modelo que suporta Full HD e incorpora o já bom Genius do iTunes para tornar a busca de videos mais focada nas preferências do cliente.
Mas o que houve de impressionante foi a quantidade e a qualidade de aplicativos. Além da incorporação de funcionalidades no já excelente Garage Band, a disponibilização do iPhoto para o iPad e o iPhone, com uma interface muito bem cuidada e extremamente fácil de usar. Muitos deles já estão disponíveis e a maioria roda nos iPads e iPhones mais recentes, ou seja, nada fica obsoleto.
Surgiu também uma batelada de novos games que utilizam em pleno a resolução, a velocidade do processador gráfico e, claro, a adutora do 4G que permite velocidades pela rede celular de até 72Mb, coisa que nem temos idéia do que seja.
Sony, Microsoft, Nintendo, tremei!
Essa aposta inesperada da Apple nos games, e a forte participação de desenvolvedores externos surpreendeu a muitos analistas, pois isso era esperado para mais tarde. Mas as cartas estão lançadas, vamos ver como fica.
O grande ausente no iPad foi o Siri.
Pensando um pouco, um dia depois dos anúncios, parece óbvio que o iPad de 3ª geração (simplesmente iPad, sem adjetivos ou sufixos) é uma evolução, não uma revolução. Mas, ao focar na melhoria da experiência do usuário – o grande mantra da Apple- é muito provável que mais gente se renda a seus encantos.
Afinal, ficou muito mais fácil e mais agradável capturar e tratar fotos e vídeos, buscar entretenimento pago via iTunes Store (os livros passam a vir com resolução próxima a do papel impresso, algo que parecia difícil sem o uso da tecnologia eInk) e sinaliza para a consolidação do modelo iCloud e de uma aceleração da venda de aplicativos, músicas, vídeos e livros.
Sinaliza também para os próximos lançamentos, como o Mountain Lion, o novo sistema operacional do Mac, que deverá ficar bem mais próximo do iOS (6?). Ontem a Apple disponibilizou o iOS 5.1, já com boas novidades.
O maior desafio segue sendo a manutenção do crescimento. No último trimestre de 2011, a Apple cresceu impressionantes 76% em vendas, quando comparado com o último trimestre de 2010. Excelente para uma empresa que vale mais de meio trilhão de dolares na Bolsa e exibe robustas margens operacionais, mas manter essa taxa parece difícil, quase impossível.
Com a concorrência somada já encostando nos 50% de market share, o mercado de tablets já oferece excelentes opções na plataforma Android e agora, começando a aparecer nas estatísticas, a Microsoft deu um salto à frente de todos ao mostrar como será o Windows 8, uma coisa só para qualquer dispositivo.
O que parece continuar sendo o diferencial da Apple é a riqueza de conteúdo que só parece aumentar à medida em que a experiência do usuário fica cada vez melhor.
Pode ser que aí esteja a revolução, que muita gente não enxergou: a persistência de um modelo que vem dando certo nos últimos anos, que é a sedução do usuário. Afinal, no último trimestre de 2011 a Apple vendeu mais iPads do que a HP, lider mundial de omputadores, conseguiu faturar com notebooks.
E não custa lembra que, há apenas 2 anos atrás, quase todos os especialistas torciam o nariz para o iPad original, um iPhonão sem telefone ou um notebook sem teclado, diziam as cassandras.
Apple: Casos de fracasso explicam seu sucesso
2010 encerra com a Apple sendo a empresa de tecnologia de maior valor de mercado. Nos últimos anos ela emplacou um sucesso atrás de sucesso, criando novos referenciais em diversos segmentos. Já falaremos deles, todos conhecidos da maioria dos nossos leitores. Mas primeiro, quero lembrar de seus fracassos.
O Lisa, lançado em 1983 como o primeiro computador pessoal com interface gráfica, custava inacreditáveis US$ 10.000, grana que dava para comprar um Cadillac completinho e ainda sobrava um bom troco… Falhou por ser muito caro, fraquinho e com poucos aplicativos. Nem suas versões posteriores mais potentes e menos custosas conseguiram emplacar. Para quem conhece os carros americanos, o Lisa foi o Edsel da Ford.
Em 1996, a Apple lança o Pippin, por US$ 600, para ser um aparelho de videogame em rede. Mas, com menos de 20 títulos e performance fraca, vendeu pouco mais de 40.000 unidades para uma produção total de mais de 100.000. Um encalhe enorme, muita grana de pesquisa e desenvolvimento jogada fora. Alguém aí já teve um Pippin? Para a Apple, um verdadeiro pepino…
Hoje em dia, o MacBook é objeto de desejo de quase todo mundo que usa um laptop. Mas nem sempre foi assim. Mesmo com o sucesso do conceito do Macintosh, lançado como computador de mesa em 1984, O Macintosh Portable, lançado em 1989 por US$ 6.500 não emplacou, mais ou menos pelos mesmos motivos da falha do Lisa.
Essa máquina foi o símbolo dos momentos tortusoso pelos quais passou a Apple e que levou Steve Jobs a ser demitido.
O G4 Cube já é da fase nova, após o retorno triunfal de Steve Jobs. Lançado em 2000, com a assinatura do guru de design da Apple, Jonathan Ive (o mesmo do iPhone, do MacBook, do iPod e tantos outros), era um cubo com 20 cm de lado, custava US$ 1.600 (preço razoável para a época) mas falhou por não ser nada mais que um Mac em formato de cubo, sem grandes possibilidades de encaixar expansões e periféricos, prioridades básicas do início do século.
Dá para registrar no mínimo mais uns 10 produtos da Apple que não deram certo, independente de quem estava à frente das decisões da companhia.
Os sucessos da Apple, de outro lado, começam com o Apple II (sim, houve o Apple I, alguém viu?), o primeiro computador pessoal que podia justificar esse nome, o Macintosh, que virou cult entre estudantes e designers, e, mais recentemente, o iPod, o iTunes, o MacBook em suas várias versões, o iMac, o iPhone e o iPad.
O Apple II, o Macintosh de 1984 definiram novos padrões de mercado, inventando novas necessidades para os usuários antes de resolver seus problemas. Mas a concorrência estava mais alerta, e apareceram, respectivamente, o MS-DOS e o Windows da Microsoft para colocar esses dois produtos inovadores em nichos bem específicos.
Já os novos produtos deste milênio mudaram a face da indústria, e passaram a uma posição de dominância de mercado, embora não tenham sido inovadores nos conceitos. Já existiam players digitais e lojas de vendas de música e antes do combo iPod+iTunes; o Macbook entrou para valer em um mercado de notebooks muito concorrido e com produtos muito bem aceitos, como a linha Vaio da Sony; o iMac criou novas estéticas para o desktop, mas não grandes novidades de uso; o iPhone foi, em essência, a inserção de circuitos de telefone celular em um iPod Touch; o iPad fez furor como o produto de mais rápida adoção no mercado na esteira do sucesso do iPod e do iPhone, mas o conceito de tablet já existia há mais de 15 anos. A Apple apenas criou um produto charmoso e usável.
Esse modelo de sucesso, além da inegável competencia do time da Apple, deve permanecer viável por um bom tempo. A analogia que faço com casos de sucesso do passado, como o da Microsoft, é que a Apple agora inova em cima de conceitos já lançados e ainda em busca de uma boa posição no mercado.
De certa forma, a empresa da maçã adota em 2010 a mesma receita já testada pelos concorrentes do final do século XX que tanta dor de cabeça lhe causaram.