Até George Orwell ficaria encabulado…
Agora é oficial: Estamos sendo grampeados por agências de inteligência americanas e britânicas, no mínimo! Registros de ligações telefônicas, bases de dados das principais redes sociais e serviços online, tudo isso está sendo monitorado.
Os registros de todas as ligações telefônicas dos clientes corporativos da Verizon estão sendo entregues à NSA – National Security Agency por ordem do juiz Roger Vinson desde abril deste ano. São chamadas locais, longa distância nacional e internacional. O furo inicial foi dado pelo jornal inglês TheGuardian, que inclusive exibiu cópia da ordem judicial secreta .
Na sequência, a Casa Branca admitiu as ações, por conta das medidas de combate ao terrorismo, e aparentemente, o monitoramento vai continuar e, quem sabe, também esteja sendo feito por outras organizações mundo afora.
Mas olhemos a coisa do prisma tecnológico: A internet, é bom lembrar, é a derivada civil da ArpaNet, uma rede comunicação entre computadores militares criada na década de 1960 por conta da Guerra Fria e da necessidade estratégica de blindar informações sensíveis que trafegavam através de redes comerciais de telecomunicações, como a AT&T nos Estados Unidos.
Com sua expansão para uma rede mundial, e a popularização dos celulares, bilhões de pessoas se conectaram. Liberdade, baixo custo, informação farta à disposição.
Do lado dos indivíduos, a banda larga por onde cada vez mais dados trafegam velozmente; custos de armazenamento em queda livre, e serviços ditos na nuvem cada vez mais populares; os processadores dos dispositivos digitais sempre mais poderosos.
Do lado das agências de inteligência, a realidade é a mesma: Rede rápida, processadores parrudos, armazenamento de dados em escala de zetabytes. E é bem mais fácil de fazer, pelo acesso antecipado às novas tecnologias. A pressão para grampear é grande, e se as agências oficiais não fazem, os bandidos podem sair na frente.
Em 1948, George Orwell escreveu 1984, onde antecipava com seu Big Brother um futuro com um ente central opressor, que sabia da atividade de todos os indivíduos.
A realidade de 2013, se pudesse chegar à tumba de George Orwell, faria com que ele desse boas reviradas de desconforto, ao verificar que sua imaginação não conseguiu ser suficientemente criativa na sua fantasia do futuro.
WikiLeaks: Um 1984 ao contrário
Quando publicou seu livro 1984, George Orwell parecia haver antecipado o futuro em varias ocasiões e geografias, como que descrevendo cada uma das principais ditaduras do século e mostrando o apetite dos poderosos de plantão em controlar a vida de seus cidadãos. Mas a visão orwelliana, descrita em 1949, ficou mais próxima da realidade após a revolução digital da internet, quando todas, ou quase todas as nossas ações parecem monitoradas por uma gigantesca rede de câmeras de vídeo e computadores conectados entre si.
O que ele certamente não imaginou foi a monumental inversão de conceitos, passando do controle de informações e de privacidade do indivíduo pelo Estado para a abertura de segredos desse mesmo Estado ao cidadão comum em escalas tsunâmicas, com o advento do WikiLeaks.
Não adianta questionar, ficar irado, querer fazer picadinho de seu criador, o australiano Julian Assange, 39 –que acaba de ser preso na Inglaterra, enquanto eu escrevo essa postagem– ou mesmo tirar o site do ar, que a mudança de referencial já está feita. A maior parte do conteúdo vazado, na casa de centenas de milhares de documentos secretos, já está armazenado em milhares de computadores do mundo, para o bem ou para o mal.
É razoável supor que medidas punitivas sejam tomadas contra Assange, mas isso coloca alguns argumentos defendidos pelas grandes democracias (Estados Unidos à frente) em cheque no tema de privacidade x liberdade na internet.
Ácidos críticos das restrições de acesso a informações impostas por países como Irã, Cuba, China e Coréia do Norte, em maior ou menor grau, agora o feitiço virou contra o feiticeiro e, seguramente, algumas medidas restritivas de controle de acesso e mesmo os marcos legais e regulatórios serão revistos para impor uma nova ordem que, no mínimo, tornem vazamentos dessa natureza menos prováveis.
Ocorre que essa linha de ação vai contra a própria arquitetuta da internet e mesmo da natureza humana. Se novas restrições forem impostas, novas alternativas serão criadas, numa escalada de forças sem precedentes.
Vale lembrar que os backbones principais da internet são controlados a partir dos Estados Unidos. Logo, querer ser ingênuo ao ponto de acreditar no poder do clique do mouse nas mãos do internauta individual é entrar no mundo da Carochinha do século 21.
Mas, ao mesmo tempo, e pelas proporções do estrago causado pelo WikiLeaks, com certeza as negociações de alto nível da diplomacia mundial terão de ser revistas, ou ao menos seus métodos de registro.
É razoável supor que a franqueza de argumentos em uma conversação reservada fiquem diluidos por um ritual imposto pela Nova Segurança, atrasando acordos e ações de interesse das nações.
Não nos iludamos. A reação dos governos à ação da Wikileaks, qualquer que seja o desfecho, mostra o poder da internet e das tecnologias digitais e que essa força deve ser cada vez mais levada em conta na formulação de estratégias governamentais, corporativas e individuais.
George Orwell pode até não estar se revirando na tumba, mas, com certeza, seu espírito deve estar refletindo sobre a oportunidade perdida de escrever uma suite de seu best-seller: 2010!
WikiLeaks: Um 1984 ao contrário
Quando publicou seu livro 1984, George Orwell parecia haver antecipado o futuro em varias ocasiões e geografias, como que descrevendo cada uma das principais ditaduras do século e mostrando o apetite dos poderosos de plantão em controlar a vida de seus cidadãos. Mas a visão orwelliana, descrita em 1949, ficou mais próxima da realidade após a revolução digital da internet, quando todas, ou quase todas as nossas ações parecem monitoradas por uma gigantesca rede de câmeras de vídeo e computadores conectados entre si.
O que ele certamente não imaginou foi a monumental inversão de conceitos, passando do controle de informações e de privacidade do indivíduo pelo Estado para a abertura de segredos desse mesmo Estado ao cidadão comum em escalas tsunâmicas, com o advento do WikiLeaks.
Não adianta questionar, ficar irado, querer fazer picadinho de seu criador, o australiano Julian Assange, 39 –que acaba de ser preso na Inglaterra, enquanto eu escrevo essa postagem– ou mesmo tirar o site do ar, que a mudança de referencial já está feita. A maior parte do conteúdo vazado, na casa de centenas de milhares de documentos secretos, já está armazenado em milhares de computadores do mundo, para o bem ou para o mal.
É razoável supor que medidas punitivas sejam tomadas contra Assange, mas isso coloca alguns argumentos defendidos pelas grandes democracias (Estados Unidos à frente) em cheque no tema de privacidade x liberdade na internet.
Ácidos críticos das restrições de acesso a informações impostas por países como Irã, Cuba, China e Coréia do Norte, em maior ou menor grau, agora o feitiço virou contra o feiticeiro e, seguramente, algumas medidas restritivas de controle de acesso e mesmo os marcos legais e regulatórios serão revistos para impor uma nova ordem que, no mínimo, tornem vazamentos dessa natureza menos prováveis.
Ocorre que essa linha de ação vai contra a própria arquitetuta da internet e mesmo da natureza humana. Se novas restrições forem impostas, novas alternativas serão criadas, numa escalada de forças sem precedentes.
Vale lembrar que os backbones principais da internet são controlados a partir dos Estados Unidos. Logo, querer ser ingênuo ao ponto de acreditar no poder do clique do mouse nas mãos do internauta individual é entrar no mundo da Carochinha do século 21.
Mas, ao mesmo tempo, e pelas proporções do estrago causado pelo WikiLeaks, com certeza as negociações de alto nível da diplomacia mundial terão de ser revistas, ou ao menos seus métodos de registro.
É razoável supor que a franqueza de argumentos em uma conversação reservada fiquem diluidos por um ritual imposto pela Nova Segurança, atrasando acordos e ações de interesse das nações.
Não nos iludamos. A reação dos governos à ação da Wikileaks, qualquer que seja o desfecho, mostra o poder da internet e das tecnologias digitais e que essa força deve ser cada vez mais levada em conta na formulação de estratégias governamentais, corporativas e individuais.
George Orwell pode até não estar se revirando na tumba, mas, com certeza, seu espírito deve estar refletindo sobre a oportunidade perdida de escrever uma suite de seu best-seller: 2010!
Google Multiuso
Quando o Google lançou o Chrome, como um revolucionário browser, eu até que fiquei animado. Mas depois de testá-lo em vários releases e até mesmo desculpá-lo por suas falhas, achei-o simples demais, despretensioso demais e… sem a cara do Google. Voltei ao trio Firefox/Safari/IE, cada um com seus pontos positivos e negativos.
Não mais! O release 3.0.195.33 está muito bom, rápido, seguro, fácil de customizar e bonito de ver, até porque ele pode ficar do jeito que você gosta.
Mas isso não é tudo. O Google põe no forno as versões Leopard e Linux, cobrindo assim, junto com a versão Windows, todo o espectro de sistemas operacionais que realmente contam no mercado.
A estratégia do Google é ambiciosa. Basta ver as primeiras avaliações do Google Chrome OS na versão para desenvolvedores. Simples de usar, rápido e fácil de fazer a migração. Especialmente do Windows Vista.
Vamos adiante. O Android nas plataformas de dispositivos móveis está mexendo com o mercado, e vai brigar com a Apple e sua dianteira nos sistemas operacionais de smartphones.
E os aplicativos? O Google Docs está cada vez mais compatível com o Microsoft Office, fora os Picasa, GMail, Images, Maps, Earth, e mais uma miríade de soluções cada vez mais usadas. E tudo grátis para o indivíduo e cobrável de empresas em versões mais abrangentes e integradas.
Chega? Acho que não. O Google desperta a ira de muitos, inclusive do magnata Rupert Murdoch, que busca uma impensável aliança com a Microsoft para poder cobrar por seu conteúdo através das plataformas da gigate de Redmond. Ele e Bill Gates correndo atrás do prejuízo… Aliás, nessa linha, a Microsoft disponibiliza na “nuvem” muitas funções de seu Office 2010 que já existem no Google Docs.
E, finalmente, como o Google domina amplamente o suculento mercado de anúncios por links patrocinados (que eufemismo brilhante!) e tem milhões de usuários do AdWords e mais milhões de canais de distribuição de seus anúncios através do AdSense, eu vejo os tentáculos dessa empresa com 11 anos de vida abraçarem todos os caminhos conhecidos da internet.
Não vou aqui afirmar que o Google vai reescrever a visão de George Orwell, em seu memorável 1984, na versão corporativa. Mas o Google ficou suficientemente grande para incomodar de vez o establishment global, e não só da área de TI. As agências de publicidade, os veículos de comunicação, os provedores de serviços de localização, as operadoras de telecomunicações, dentre tantos outros, sentem urticárias ao ouvir o nome Google…
Isso sem falar no sabor original, o mecanismo de busca.
Ah! Eu postei um video dos primeiros passos de meu neto no YouTube. E daí? Daí que o YouTube, comprado pelo Google, responde por 20% de todo o tráfego da web. Um endereço www.youtube.com = 20%. Quanto vale isso? Operadoras de TV por assinatura, tremei!
Considerações Sobre a Política Nacional de Informática – Uma Visão de 1984
CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DE INFORMÁTICA
APRESENTAÇÃO À COMISSÃO MISTA DO CONGRESSO PRESIDIDA PELO SENADOR VIRGILIO TAVORA
Eduardo Guy de Manuel
Presidente da ASSESPRO – NACIONAL
Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Informática
Brasília, 11 de setembro de 1984.
1 – A INFORMÁTICA HOJE E NO FUTURO
De repente, a sociedade brasileira acordou para a informática. Discute-se sobre seus impactos, seus benefícios, sua capacidade de gerar ou extinguir empregos, e mesmo sob os aspectos relativos à área social e sua importância estratégica como ferramenta de soberania nacional.
A grande quantidade de projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional, exibindo uma ampla gama de opiniões e conceitos, e a ênfase com que o assunto vem sendo tratado nestas casas legislativas, demonstra a preocupação de nossos Congressistas em corretamente definir um modelo duradouro para a informática, no Brasil.
Para melhor embasar nossa exposição, vamos colocar em discussão alguns parâmetros, que, ao nosso ver, são importantes para a definição do modelo de informática mais adequado ao Brasil.
A “invasão” dos computadores, tal como a vemos hoje, é apenas a ponta do iceberg dos campos de aplicação da informática em 1984, estima-se que os dispêndios mundiais no setor alcancem a 250 bilhões de dólares. Um valor expressivo, sem dúvida. Mas, ao levarmos em conta os números previstos para a virada do século, que montam a 5 TRILHÕES de dólares, ou 20 vezes mais, em apenas 15 anos, somos obrigados a refletir um pouco mais.
O fator 20 de crescimento, traz em seu bojo três interpretações nem sempre muito claras:
– O preço unitário dos equipamentos e serviços de informática vem decrescendo assustadoramente, a níveis mundiais. Logo, a multiplicação dos usuários de informática se dará a um fator próximo de 200 VEZES, em apenas 15 anos.
– A extensão das suas aplicações é hoje ainda mal avaliada, por conseqüência. Não podemos imaginar este crescimento baseado apenas no aumento de usuários para as aplicações que conhecemos hoje. É razoável supor que seu uso se espalhe intensamente para as áreas que vão da automação industrial ao ensino de todos os níveis; do diagnóstico (e talvez prognóstico) na medicina à meteorologia, passando pelas ciências exatas, sociais, humanas. Enfim, espera-se que a informática seja colocada à disposição de todos os ramos de conhecimento e atividade humanos, para SERVIR ADEQUADAMENTE À SOCIEDADE;
– A disseminação da informática, como recurso-meio das atividades humanas, vai requerer, além de tecnologia evoluída em seu USO, como também de recursos muito grandes para pesquisa, visando torná-la útil em todos os campos. E capacidade de produção de uma infinidade de insumos, componentes e produtos acabados em uma escala industrial jamais imaginada há alguns anos atrás.
Em cima disso tudo, cabe uma pergunta: Será que uma nação, individualmente, pode pretender abraçar todas as disciplinas do conhecimento da informática, e colocá-las à disposição de seus cidadãos, em condições vantajosas, preservando ainda o domínio dos rumos estratégicos desta nova área do conhecimento humano?
Como decorrência, quais são os parâmetros mínimos que uma nação deve pretender dominar, de acordo com a soberana vontade de seus cidadãos, para que não fique ao reboque das nações e grupos econômicos mais poderosos, e assim entrar naquela que talvez seja a mais odiosa forma de dependência: a dependência da informação, do conhecimento e da capacidade de um povo definir seus próprios destinos.
A informática, sem dúvida, pode colocar nas mãos de governos e mesmo grandes empresas, poderes nunca antes imaginados. O perigo do Big Brother, de George Orwell, previsto em seu livro, por coincidência chamado “1984”, é muito maior do que pensamos.
Pobre daquele país que concentrar muito poder de decisão sobre a informática nas mãos de poucos, em especial se este poder não for rigidamente controlado pela vontade da sociedade. A concentração destes poderes, se em mãos de pessoas bem intencionadas e capazes, pode trazer benefícios incríveis. Mas e se as pessoas, suas índoles e suas ideologias não forem adequadas?
Basta fazer um pequeno exercício de fantasia histórica, e imaginarmos o que seria do mundo se Hitler e seus asseclas tivessem os recursos da informática de hoje em suas mãos. Sem falar daqueles que estarão no mercado nos próximos anos…
2- PARAMETROS PARA UMA LEGISLAÇÃO DE INFORMÁTICA
O Brasil, objeto de nossas permanentes atenções e preocupações, precisa, naturalmente, de uma legislação sobre a informática. Nosso primeiro modelo não será, certamente, algo pronto, acabado e perfeito.
A legislação básica deve permitir aperfeiçoamentos permanentes, para acompanhar a dinâmica do ramo, onde uma nova geração de computadores surge a cada 18 a 24 MESES, e onde os computadores com inteligência artificial já fazem a sua estréia em laboratórios de pesquisa.
Devemos levar em conta nossos interesses estratégicos, visando preservar a soberania do Brasil, como nação independente, política, econômica e “informacionalmente”.
Os recursos tecnológicos e financeiros devem ser corretamente avaliados, para não transformarmos nossas aspirações de independência tecnológica em atrasos sociais que aumentem exponencialmente a distância que hoje nos separa das nações mais prosperas.
Não devemos, com certeza, deixar que os poderes de decisão sobre os rumos da informática nacional estejam concentrados em pessoas ou órgãos, cujas atividades não possam ser rigidamente controladas, fiscalizadas e cobradas, dada a importância estratégica da sociedade.
Nossos recursos são parcos; mesmo assim, já dispomos no país de um considerável acervo tecnológico. Não devemos, não podemos desperdiçá-los.
Os diversos setores da informática, representados por entidades de classe, cuja importância no cenário nacional cresce, dia a dia, devem estar permanentemente representados nos organismos formuladores, executores e controladores da Política Nacional de Informática, junto com representantes de governo e de consumidores, ou usuários.
A Política Nacional de Informática deve levar em conta os princípios básicos da Democracia e da Livre Iniciativa, esta última como única forma adequada de manter a indústria competitiva, gerando sempre melhores produtos aos seus usuários.
Deve, sobretudo, contemplar com especial ênfase e carinho o setor de serviços, que será o mais significativo da informática, nos próximos anos, e onde o Brasil já demonstra especial capacitação, ao ponto de ser um incipiente mas promissor exportador de programas e sistemas de computação, para países como os Estados Unidos e a Alemanha Federal.
Os usuários, atuais e futuros, devem merecer a maior das atenções, não só porque pagam as contas, mas porque precisam de recursos informatizados potentes e eficazes, de modo a gerar produtos e serviços cada vez mais eficazes e competitivos, pois só deste modo o Brasil pode pretender ingressar de vez no rol das nações prósperas e desenvolvidas.
Mecanismos de proteção à empresa nacional de informática são indispensáveis, para criar condições de termos a médio prazo, a dura concorrência dos mercados externos, e prover o mercado interno com ferramentas eficiêntes.
A proteção deve, no entanto, ser transitória, de preferencia declinante no tempo, para não gerar acomodações e ineficiência, que, por sua vez, acarretariam em progressivo isolamento para o país, preços sempre mais altos ao usuário final e perda de competitividade em seus produtos.
Não podemos ignorar a reserva de mercado, que já perdura no Brasil há dez anos, para a fabricação de computadores e seus periféricos. Negá-la agora, ou discutir sua viabilidade, seria por a perder todo um esforço que levou à criação de centenas de fabricantes nacionais, e a perto de mil empresas de software e serviços, a maioria das quais dependem dos fabricantes nacionais, para seu mercado.
São dezenas de milhares de empregos diretos criados, que devem ser preservados e mesmo estimulados à multiplicação, para acompanhar o crescimento da informática.
Mas a tecnologia, os recursos financeiros e, principalmente, os mercados estrangeiros, não podem, não devem ser postos de lado. Eles são vitais, para uma informática nacional forte e definitiva, no cenário mundial.
3 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROJETO DE LEI DO GOVERNO
Inegavelmente, a proposição do governo é ordenada, aborda o problema da indústria de hardware e microeletrônica de forma a retratar suas preocupações quanto à viabilização da indústria nacional.
O problema do software, talvez mais relevante e estratégico, é tratado tangencialmente, na medida em que se trabalha febrilmente na montagem de um projeto específico para o setor, e que, esperamos, será trazido à apreciação do Congresso Nacional o mais breve possível. Neste projeto, a ASSESPRO vem procurando fornecer os melhores subsídios, bem como gostaria de debate-lo intensamente com os Congressistas, bem como vê-lo aprovado no menor prazo possível, dada sua relevância.
Voltando ao projeto em pauta, temos algumas preocupações, que se materializam pela análise dos pontos que já abordamos, e que passamos a sumarizar abaixo:
A Comissão Nacional de Informática deve ser democratizada. A participação das entidades de classe do setor deve ser, no mínimo, paritária, em relação à representação de órgãos governamentais.
A indicação dos representantes à CNI deveria originar-se da vontade das entidades representadas, talvez com referendo do Congresso Nacional. Desta forma, evitaríamos, para sempre a manipulação de sua constituição, visando a atender interesses específicos de grupos, e também uma indevida concentração de poder em poucas mãos. Se hoje a concentração de poderes na SEI traz resultados, na média, favoráveis, deve-se ao fato circunstancial de termos pessoas certas nas posições chaves. Mas a formulação de uma Política Nacional de Informática, não pode pressupor que a situação atual vá permanecer.
O prazo previsto para a reserva é mais do que razoável. Oito anos, mais os dez passados, significam o equivalente a mais de um século, para indústrias tradicionais. Não podemos fechar-nos por um período maior, sob pena de sermos riscados de vez, do quadro das nações aspirantes a entrar em campo no time principal.
Todo o esforço do Estado, inclusive no que toca à pesquisa básica, deve contar, obrigatoriamente, com a colaboração da empresa privada nacional. Esta deve sempre ser fortalecida, para que se torne permanentemente competitiva, e também para que o modelo de informática seja condizente com o sistema político do Brasil.
Para que não caiamos em mais uma letra morta, a PNI deveria dar ênfase, ou mesmo, quem sabe, restringir-se àqueles tópicos que possam ser realmente cumpridos, na prática. Uma excessiva abrangencia pode limitar o desenvolvimento de determinados segmentos industriais, vitais para o País, forçando uma revisão da PNI, com os conseqüentes desgastes, para outras áreas. Em outras palavras, vamos legislar sobre um universo conhecido e plenamente ao alcance de nosso controle.
Como dissemos anteriormente, a legislação deve ser dinâmica para atender às crescentes inovações que precisam ser reguladas. Assim, é mais fácil ir, ao longo do tempo, incorporando novos requisitos, do que pretender legislar sobre TUDO, quando na prática, não poderemos controlar tudo.
A lei deve ser muito rigorosa, quanto à verificação e cobrança de programas de nacionalização e absorção de tecnologia em especial para empresas que se beneficiarem de incentivos fiscais, proteções aduaneiras ou verbas governamentais para pesquisa. Não se admite, com o s recursos de que dispomos, sejam premiados ou protegidos os empreendimentos que visam o lucro fácil, em detrimento da genuína fixação de tecnologia no país.
A oportunidade é impar, para fortalecermos nossas Universidades e centros de pesquisa, engajando-os neste esforço, fazendo com que mecanismos de incentivos às empresas passem, sempre que possível, por uma cooperação com esses nossos centros de cérebros, hoje tão marginalizados do nosso processo de desenvolvimento.
Uma palavra sobre o cidadão. É muito importante conceituar claramente, dentro da lei, os direitos do cidadão em conhecer as informações armazenadas sobre ele, nas bases de dados públicas. Ele deve, ainda, ter o inalienável direito de exigir alterações nesses dados, sempre que se revelarem incorretos, ou imprecisos.
Resguardar a privacidade do cidadão é o complemento indispensável. Devemos garantir a ele que determinadas informações sobre sua pessoa não poderão ser armazenadas ou utilizadas, visando proteger sua privacidade e individualidade.
É igualmente importante, que a PNI não esvazie ou invada espaços bem preenchidos por órgãos públicos já existentes, em especial os Ministérios da Indústria e Comércio e o das Comunicações. Estaremos desta forma, evitando a excessiva centralização de poderes, bem como utilizando-se de estruturas já existentes, com custos obviamente menores.
O problema do papel da empresa estrangeira, no desenvolvimento da informática no Brasil, parece-nos ainda não adequadamente debatido. Sem dúvida, nenhum brasileiro em pleno domínio de sua razão, deixaria de preferir empresas genuinamente nacionais dominando o mercado nacional e internacional.
Resta saber se podemos prescindir quase que totalmente a presença das chamadas multinacionais, ou se devemos evoluir para um aprimoramento de relacionamentos, visando obter um equilíbrio que, ao mesmo tempo atenda aos supremos interesses nacionais, conciliando com suficientes atrativos para que essas empresas se fixem no Brasil, dentro de uma nova ordem de relacionamento ainda não tentada.
A discussão sobre a informática NÃO PODE SER PASSIONAL, muito menos radicalizada. Há que sermos pragmáticos, sem abdicarmos de nossa soberania. Ao tornarmos nossas posições radicalizadas estaremos caminhando para um modelo de PNI passional que talvez atinja alguns objetivos importantes de curto prazo, mas que, no futuro, nos deixe nas mãos um conjunto de brinquedos inúteis, ineficazes e caros. E, o que é pior, obrigando-nos a rever nossa PNI, até agora tão altiva e com vários frutos positivos colhidos, para uma posição de humilhação, dentro de alguns anos.
Em informática, senhores Congressistas, alguns anos significam muitas gerações. E o tempo perdido não pode ser recuperado. Como legítimos representantes do povo brasileiro, conclamamo-os a discutir o projeto de lei sobre informática, com a serenidade que exigem as grandes decisões nacionais, para que a decisão final passe à história como um dos grandes serviços prestados pelo Congresso Nacional a seus representantes, o povo brasileiro.