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Google, 2 trilhões de buscas

Dias atrás, comentamos sobre os robustos números do YouTube e o que eles representam no tráfego da internet. Agora vamos tratar do serviços de buscas do Google. Esse foi a origem dessa empresa, em 1998, que hoje é uma das mais valiosas do planeta, de acordo com a cotação de suas ações na Bolsa de Valores.

Ao final de 2013, o Google terá respondido a mais de 2 trilhões de buscas. São cerca de 300 buscas por habitante, ou quase uma por dia, por habitante, contados aí os desconectados e os que vivem em países e regiões onde o Google tem algum tipo de restrição.

No ano de seu lançamento, foram 3,6 milhões de buscas; no ano 2000, 22 bilhões; em 2007, 438 bilhões; em 2010, 1,324 trilhão.

Os números absolutos são de tirar o fôlego, mas, ao analisarmos as taxas de crescimento, vemos algumas luzes sobre o possível futuro do motor de buscas mais popular da internet.

Considerando 2007 como ano de consolidação indiscutível de sua liderança, as taxas anuais de crescimento vêm caindo desde 2009, quando o volume de buscas cresceu 50% sobre 2008. Em seguida, 39% em 2010, 30% em 2011 e 9% em 2012, quando o total de buscas foi de 1,874 trilhão.

Ora, 9% ao ano ainda é muita coisa, ainda mais considerada a base de usuários, maior do que a do Facebook. Mas quer dizer também que há concorrentes, como o chinês Baidú e o russo Yandex o Yahoo volta com tudo, e as buscas especializadas, onde existem mecanismos específicos para milhares de categorias.

Veja as tabelas abaixo, cortesia do Google:

ANO  Quantidade de buscas/ano do Google  Média de buscas/dia
1998  3.600.000  9.863
2000  22.000.000.000  60.000.000
2007  438.000.000.000  1.200.000.000
2008  637.200.000.000  1.745.000.000
2009  953.700.000.000  2.610.000.000
2010  1.324.670.000.000  3.627.000.000
2011  1.722.071.000.000  4.717.000.000
2012  1.873.910.000.000  5.134.000.000
ANO Crescimento anual %
2008 45%
2009 50%
2010 39%
2011 30%
2012 9%

Fonte: Google

Através de seus links patrocinados e do direcionamento de anúncios de acordo com o perfil de cada usuário e sua localização, o Google faturou US$ 50 bilhões de dólares em 2012, com um custo de US$ 37 bi, com margens extraordinárias, gerado caixa para seu hoje enorme leque de produtos e serviços: Gmail, Google Maps, Google+, Blogger e tantos outros.

Os diversos serviços do Google estão cada vez mais integrados entre si, gerando tráfego de um para o outro, e, portanto, possibilidade de incremento de visualizações e de receitas.

Junte-se a isso o Android, hoje a plataforma mais usada no mundo para dispositivos móveis e aí fica fácil entender os 2 trilhões de buscas no Google em 2013.

O crescimento futuro, os números mostram, não será tanto na quantidade de buscas, mas sim na multiplicidade de serviços do Google que usaremos. Ou seja, ele quer mais o seu, o meu, o nosso tempo. Como nunca, aqui, time is money!

Afinal, eles realmente sabem de tudo sobre nós?

Google is watching

Capa da revista “The Independent”

Pensei em falar sobre algoritmos, sobre nossa concordância com os termos de uso e políticas de privacidade dos grandes portais e redes sociais, do tal do Big Data, mas, mesmo assim, o assunto não seria esgotado em uma simples postagem. Então, fui para um exemplo prático:

Peguei dois aparelhos conectados à internet, abri os browsers e fiz buscas simultâneas no Google.

Tentei “Óculos de sol“. Tive o cuidado de colocar os argumentos de busca iguais em cada dispositivo (um PC e um iPad) e dar enter ao mesmo tempo. Os resultados foram bem diferentes, em cada aparelho. Os links patrocinados também vieram diferentes.

Depois fui de “Arroz com feijão“, e, do mesmo jeito, os resultados da busca foram diferentes no PC e no iPad

Descontadas as frações de segundo decorridas entre buscas iguais através de dois aparelhos diferentes, com sistemas operacionais diferentes, o que ajuda a explicar porque “Óculos de sol” e “Arroz com feijão” não são iguais no iPad e no PC são cookies armazenados em cada aparelho e hábitos de navegação, armazenados nos servidores do Google.

Como o Google armazena tudo, ou quase tudo, ele pode direcionar os resultados de buscas de acordo com o que ele assume sejam suas preferências, ou, por razões comerciais, atendendo aos interesses dos anunciantes.

Você pode reproduzir esse exercício com argumentos de busca próprios, que também darão resultados diferentes quando você usa o Facebook, o Twitter, ou acessa qualquer dos grandes portais.

Resumo da ópera: Sim, essa turma sabe muito mais sobre você do que você imagina. Mesmo sendo você uma exceção à regra que costuma ler e entender as políticas de privacidade e os termos de uso de cada um desses serviços. Afinal, ao concordar com eles, você também concorda que eles possam mudar as regras a qualquer momento, sem aviso prévio.

Parar de usar? Nem pensar. Mas cuide com o que você posta e por onde você navega.

Google Glass pode ter reconhecimento facial. Já pensou?

gglassMatt Warman, Editor de Tecnologia do Consumidor do Telegraph de Londres mostra que o Google Glass poderá ter um aplicativo de reconhecimento facial. É uma possibilidade forte, talvez não como um aplicativo próprio.

O Google diz que seu Glass não vem com reconhecimento facial, mas essa solução está sendo testada pela Lambda Labs, parceira do Google há algum tempo. Sua tecnologia de reconhecimento facial é usada em muitos aplicativos que estão no mercado.

O Google já usa essa tecnologia desde o Picasa, um dos bons softwares de organização de fotos digitais.

A versão atual que vem sendo testada pela Lambda Labs faz quem o usa no Google Glass poder tirar fotos, adicionar tags de quem está nessas fotos, fazer upload delas para só então comparar as faces com as detectadas em fotos subsequentes.  Daí para o reconhecimento facial em tempo real é um pulinho, do ponto de vista tecnológico. Reconhecer de imediato as faces capturadas cotejando-as com bases de imagens próprias ou públicas é só evoluir os algoritmos, as velocidades de conexão e os serviços de imagens na nuvem.

E a demanda de mercado pode vir com tudo… Exemplos:

  • Você está meio desligado(a) e chega a uma festa cheia de gente, muitas das quais você nunca viu e outras tantas que talvez sejam conhecidas mas não dá para  lembrar o nome; inevitavelmente, uma delas chega e diz “oi, lembra de mim?“. Com o Google Glass versão reconhecimento, você não precisa mais fazer cara de paisagem e cumprimenta essa pessoa pelo nome, que aparece em uma legenda produzida pelos óculos. Dá, claro, para reconhecer quem é essa pessoa de longe e, se for o caso, adotar a postura do Leão da Montanha “saída pela esquerda [direita]…“*;
  • Um saguão de aeroporto ou outro local de grande movimento e potencial alvo de ataques terroristas: agentes de segurança com Google Glass esquadrinham o ambiente e podem interagir com aplicativos que acessam bases de dados de possíveis pessoas-bomba e tomar medidas preventivas, evitando tragédias;
  • Quem está no Facebook ou no FourSquare pode associar uma pessoa que está num lugar ao perfil dela na redes, e isso pode ajudar na paquera ou nos negócios;
  • As celebridades terão mais dificuldades ao enviar clones para aparecer em eventos obrigatórios enquanto elas se divertem em atividades privadas. Logo alguém com o Glass vai dar o grito “ela é um fake!”
  • Você vai poder ir a um jogo de futebol em uma dessas novíssimas arenas simplesmente comprando seu ingresso pela internet e, à entrada, as roletas vão reconhecê-lo pelo rosto e deixá-lo entrar no seu setor, na sua fila, na sua cadeira. E ainda comandam a entrega de sua pipoca e a sua bebida preferidas, na hora que você desejar.

No quesito privacidade, ela será fatalmente restringida por aplicativos desse tipo, e as querelas filosóficas e jurídicas serão enormes, antes de se chegar a algum marco regulatório. Dá até para especular os motivos que levaram o Google a não incorporar a tecnologia de reconhecimento facial ao Google Glass, num primeiro momento. Melhor para a empresa deixar o teste de campo para alguma empresa parceira e avaliar a aceitação, as restrições e os possíveis caminhos, já devidamente aplainados, para só depois entrar para valer.

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* Para quem não lembra ou não é dessa época, o Leão da Montanha era um personagem dos desenhos animados de Hanna & Barbera, muito esperto, mas avesso a brigas, que, quando via algum perigo de ser caçado pelo coronel dizia “saída pela direita [esquerda]!” e saia correndo de cena.

Google quer fazer a tecnologia desaparecer

ImagemNesta quarta, 15/5, o Google começou sua conferência anual para desenvolvedores, o Google I/O 2013, com muitos anúncios relevantes, que vão requerer  mais tempo para assimilar do que uma jiboia gasta para digerir um boi inteiro.

Ainda é cedo para avaliar tudo o que está sendo ofertado pelo Google. São dezenas de novidades, centradas em uma grande integração dos produtos com o Google+. Melhoram as interfaces, compartilham-se os diversos espaços de armazenamento na nuvem com o Google Drive, e os aplicativos Maps, Gmail, YouTube e que mais você use do Google devem funcionar sob regência única.

O Google Now, o assistente virtual que aceita comandos de voz é um Siri mais avançado e natural, e o Google Hangouts consolida todos os serviços anteriores de mensageria e chats anteriores, e é tão intuitivo e simples de usar que coloca os concorrentes em estado de alerta máximo!

Bianca Bosker,do Huffington Post, toca num ponto central: o recado do Google no keynote de 3 horas e meia seria sobre seu objetivo de fazer a tecnologia desaparecer, ou seja, torná-la tão trivial e fácil de usar que nem nos daremos conta de que ela existe. E não é só sobre interfaces mais óbvias, que dispensem explicações para o uso, ou que eliminem mecanismos anti-naturais, como o teclado e o mouse. Nem os aplicativos cativantes ou dispositivos charmosos serão suficientes. Ao contrário do anúncio, o Google, segundo Bianca, trabalha para que sua tecnologia seja tão completa e onipresente que nos torne a todos seus clientes cativos.

Do ponto de vista estratégico, nada muito diferente do que já tentaram a Apple e o Facebook, até agora sem sucesso. Só que o caminho do Google parece mais lógico, com uma plataforma aberta que atrai cada vez mais parceiros, e as novidades entregues por ele ultimamente estão provando isso.

Não por acaso, as ações do Google subiram para mais de US$ 918, valorizando 50% em um ano, enquanto as da Apple seguem em queda, a US$ 427, um declínio de quase 30% no mesmo período.

A Mega Sena das Buscas Digitais. Só que ao contrário…

ImagemVocê faz buscas na internet, usando seu smartphone ou tablet, via Google, Bing, Yahoo ou outros mecanismos menos cotados? Então prepare-se: se você confia nos resultados e acha que pode esquecer dos vírus  dos trojans, enfim dos malwares que infestam computadores pessoais, pode começar a se preocupar.

A empresa alemã AV-TEST divulgou um estudo onde mostra o ranking desses mecanismos mais populares no quesito entrega de malware nas buscas nossas de cada dia. Esse estudo levou 18 meses para ser concluído e é bem completo e isento.

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As Fazendas do Google

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A grande maioria dos cidadãos digitais da segunda década do século 21 usa serviços “na nuvem” do Google, da Amazon, da Apple, da Microsoft, do Facebook, do Twitter e de muitos outros menos cotados, a maioria gratuitos, ou “patrocinados”, como queira o leitor.

O que nós não nos damos conta é qual a infraestrutura tecnológica que está por trás desses serviços.

Eu uso aqui uma galeria de imagens e textos curtos do Google para que possamos navegar pelas entranhas dessas fazendas de servidores.

Vale a pena investir uns minutos para entender sua dimensão. Um número, apenas, para reflexão: os serviços de busca do Google usam mais de um milhão de servidores, espalhados mundo afora.

Normalmente esses data centers estão situados em zonas rurais, onde a terra é mais barata, e substituem fazendas tradicionais que produzem alimentos e viram fazendas de informação. Cada um deles consome energia elétrica equivalente a cidades nem tão pequenas assim e abrigam dezenas de milhares de servidores. Cada servidor é um computador dedicado a alguma tarefa, e é várias vezes mais parrudo do que essa máquina que você está usando nesse momento.

Esses data centers possuem conexão com os demais data centers sempre de forma redundante, para que, em caso de pane, outras conexões possam suportar o tráfego de dados. Os servidores também possuem redundância local e remota, assim como alternativas em caso de apagão, inclusive com geração local de energia eólica, painéis solares, e biomassa.

No caso do Google, só a parte de buscas -hoje um pedaço apenas da multiplicidade de ofertas da companhia- atende a mais de 1 bilhão de consultas ao dia!

Mas, com toda essa parafernália de equipamentos e clones de segurança, assim mesmo eles podem falhar e precisam ser reparados ou substituidos.

Aí painéis de controle extremamente sofisticados dão o diagnóstico e apontam o tipo e local do equipamento defeituoso. E a maioria dos reparos é feita não por humanos, mas por robôs.

As equipes técnicas ficam lá para tratar de exceções ou de casos mais complexos, onde os robozinhos não possam atuar.

O incrível de tudo isso é que a atividade dos data centers é de tal modo intensiva em todos seus principais componentes que normalmente eles surgem como o principal empregador, gerador de renda e de tributos nos locais onde estão estabelecidos.

Mais ainda: para conseguir alvarás de funcionamento, eles precisam estar aderentes às mais modernas práticas de sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. Além da boa imagem criada localmente e no mercado em que atuam, eles servem também de cobaias para novas tecnologias ambientais.

Em resumo: Assim como o alimento que nos nutre o corpo, o alimento de informações que nos chegam pela internet também devem estar desprovidas de pragas e agrotóxicos (virus, malwares em geral, no mundo digital).

A segurança digital passa a ser quase tão relevante quanto a segurança alimentar.

A criação de empregos para cuidar dessa enorme estrutura de data centers que se espalham pelo mundo já aparece nas estatísticas com um bom peso específico. Cowboys de data centers, já pensou? Pois eles existem, sim…

Aproveite a visita ao Google. Vocês também podem buscar imagens de outros data centers e tirar suas próprias conclusões. Mas uma delas é inevitável: o mundo está mudando bem rápido!

Google+ chega a 400 milhões de contas em um ano. E daí?

O Mashable publica que o Google+ superou a expressiva marca de 400 milhões de contas, das quais 100 milhões efetivamente ativas, ou seja, de pessoas que dela fazem uso ao menos uma vez por mês. E daí?

Olhando de um jeito, o Google+ como rede social, ele perde feio para o Facebook, que tinha em julho último 955 milhões de contas ativas. Ou seja, um é 10% do outro.

Olhando de outro lado, o Facebook levou bem mais de um ano para chegar a 100 milhões de contas e desbancar a concorrência. Mas eram ainda os primórdios das redes sociais, há longínquos oito anos atrás.

Mas essa comparação direta pode induzir a erros, então vamos procurar entender as possíveis tendências:

1- Facebook tem dificuldades de superar a marca mágica de 1 bilhão de contas, e enfrenta críticas por seu guloso IPO, que derrubou o valor das ações pela metade, e a fortuna de Mark Zuckerberg, idem. Terá o Facebook atingido seu ápice e aberto as portas para a concorrência, podendo vir a ser um irrelevante MySpace2?

2- O Google+ é assim tão inovador para desbancar o Facebook, ou é menos poluído para atrair uma classe de internautas que ocupariam uma espécie de Classe Executiva das redes sociais, enquanto os demais estariam desconfortáveis na classe econômica, aguardando uma chance de upgrade?

3- Google+ é afinal uma rede social nos moldes clássicos?

Aos fatos:

  • O site Statistics Brain publica os números do Googlecomo mecanismo de busca. Em 2011, foram 1,72 trilhões de buscas no total, ou 4,72 bilhões de buscas/dia. Isso mesmo, trilhões e bilhões! Em agisto de 2010, último levantamento consolidado, o Google tinha 71,59% do mercado;
  • O YouTube (propriedade do Google, é bom lembrar) tem dados impressionantes, como 800 milhões de visitantes únicos e 4 bilhões de vídeos assistidos a cada mês;
  • Em maio de 2011, o Google Maps possuia 200 milhões de usuários em dispositivos móveis, representando 40% de todos os dispositivos conectados ao serviço (março 2011). Isso dá, numa regra de três de aproximação, 500 milhões de coisas usando o Goggle Maps;
  • Em junho de 2012, o Google anuncia que tem 425 milhões de usuários ativos no GMail (não necessariamente únicos);
  • No mundo das fotos, Flickr e Picasa (do Google) são os principais players, talvez agora com uma ameaça do Dropbox;
  • E, falando em mobilidade, o principal sistema operacional de dispositivos móveis espertos (smartphones e tablets) é o Android, do Google (dados de 2011), que reportam 48,8% de market share para este contra 19,1% para o iOS da Apple. Detalhe: enquanto o Android cresceu 244% em relação a 2010, o iOS cresceu 96%.;
  • O Google Chrome é o browser mais usado. Dados de agosto de 2012 mostram o Chrome com 47% de market share, contra 49% do Internet Explorer e do Firefox somados!

Não por acaso, o Google vem convertendo alguns serviços, como o Google Docs para o Google Drive,estimulando usuários do Picasa a armazenar suas fotos na nuvem, propagar as vantagens do Google Hangouts sobre a concorrência, notadamente o Skype (hoje da Microsoft)

E, especialmente a possibilidade de fazer um login único para todos os serviços do Google, via qualquer um dos populares produtos.

Cabe a especulação: Será que o Google não está novamente efetivamente redefinindo a indústria da tecnologia, e o Google+ nada mais é do que um aglutinador eficaz de suas ofertas? Se isso for verdade, suas apenas 100 milhões de contas ativas seriam um mero detalhe, e as quase 1 bilhão de contas do Facebook poderiam ser menos, em um curto período de tempo.

Aí, até mesmo o conceito de redes sociais precisaria ser revisto…

Dispositivos Móveis: A Hora da Negociação

Quando se estuda a evolução da tecnologia até chegar ao mainstream, ou uso em massa, podemos adotar várias abordagens e metodologias. Aqui eu vou propor a minha, baseada em décadas de participação nesse mundo e, especialmente, de muita observação e meditação.


Para efeitos didáticos, vamos dividir a evolução em três etapas, segundo o protagonista de cada uma:

1- Os Engenheiros
2- Os Advogados
3- Os Negociadores

Explico:

Na fase 1, uma boa idéia, gestada em laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, tem seu seguimento conduzido por técnicos, não só, mas principalmente, composto por engenheiros, físicos, matemáticos, enfim, a turma das exatas. Daí surgem os microprocessadores, as memórias, os displays, as telas sensíveis ao toque, os dispositivos de armazenamento, as redes de comunicação, apenas a título de exemplo e simplificação. Concepção, parto, primeiros cuidados com a criança até que ela firme seus passos.

Na fase 2, alguma(s) empresa(s) ganham a dianteira no mercado, e a defesa de patentes, marcos regulatórios, enquadramentos tributários e outros quetais viram prioridade. É a fase de ouro dos advogados, ajudando as empresas e as tecnologias a ganharem dominância. Talvez aqui a analogia seja com a adolescência, com seu rápido crescimento, o encontro com novas realidades, os conflitos do novo x estabelecido, a era da contestação e da busca pelo diferente.

Na fase 3, a realidade e a maturidade. Para seguir participando da festa, é preciso negociar alianças ou parcerias, conviver com os rivais, competir dentro de regras estabelecidas. Aqui se definem padrões, protocolos e as regras do ganha-ganha, no jargão dos negócios. É a fase adulta.

Podemos dar alguns exemplos, no mundo eletrônico e digital:

A briga VHS x Betamax: quem viu, sabe que o Betamax era superior ao VHS, quando o tema era gravação de conteudo de video doméstico. O problema foi da Sony, detentora da tecnologia Betamax que não viu a necessidade de negociar, enquanto que os concorrentes se juntaram e fizeram do medíocre VHS o padrão de fato, o que possibilitou o rápido crescimento do mercado. Os engenheiros da Sony eram melhores, seus advogados pegaram uma causa perdida e seus negociadores não tinham o quê negociar. Anos depois, a gigante japonesa aprendeu a lição e deu a volta por cima, ganhando com o padrão BluRay.

O Consenso USB: Antes dessa porta genial, chamada Universal Serial Bus, o mundo dos primitivos computadores era o caos completo. Só a miríade de cabos e conectores de tantos pinos, serial ou paralelo, mini ou normal, fazia com que nada ganhasse escala para atender a todos. Aí os grandes atores do mercado sentaram-se a mesas de negociação para chegar a um consenso assinado. E veio a USB, já na sua Geração 3, com um sucesso tão grande e tomada como algo tão natural quanto o sol e a chuva, que fica complcado explicar aos mais jovens que já houve uma era pré-USB. Mesmo assim, alguns renitentes -Apple à frente- insistem em esdruxulices como FireWire e similares. Esse é um raro caso onde as fases 2 e 3 andaram praticamente juntas.

A internet: já pensaram se não existisse um protocolo abreviado por http? Pois então, isso já existiu em priscas eras, quando os computadores e os terminais só falavam entre si se fossem da mesma marca e da mesma geração. A internet levou quase 30 anos desde seu primeiro impulso de uma rede de comunicação até o início de sua adoção em massa, nos meados da década de 1990. Uma série de eventos levou a isso, eu sei, mas se não fosse um protocolo (http), ainda teríamos ilhas não conectadas. Mas até chegar lá, brigas bilionárias envolvendo fabricantes de computadores, de equipamentos de telecomunicações, de software e, claro, de governos e entes reguladores desaguaram em tribunais locais e internacionais até que houve a evolução para  afase adulta: “Vamos negociar!”

Agora é a vez dos dispositivos móveis. Os celulares comuns, aqueles que só permitem falar e mandar/receber torpedos estão com seus dias contados. Mais um pouco, e a maioria das vendas vai ser dos ditos smartphones, que, quando dominarem o mercado, devem perder o prefixo smart e algo novo vai aparecer. E os antigos aparelhos virarão, por analogia, dumbphones, ou telefones burros.

Não esqueçamos dos tablets, que agora completam 2 anos de mercado de massa, depois do fenômeno do iPad. Em 2012, a marca de 100 milhões de unidades vendidas será facilmente alcançada, com crescimento de vendas esperado acima de 40% ao ano no futuro previsível. Ou seja, tablet vai ser uma geringonça que todo mundo vai ter ou vai querer, contrariando as cassandras que diziam que ninguém iria querer comprar um iphonão ou um laptop sem teclado.

E os laptops, agora turbinados com o conceito dos ultrabooks, vai continuar relevante e conectado.

Fazer com que essas três famílias falem entre si e, dentro de cada segmento, sejam muito compatíveis parece ser o novo desafio.

Por enquanto, nós, usuários, achamos que esse mundo é maravilhoso, que os gadgets criados por engenheiros fabulosos são o passaporte para o nirvana.

Mas os advogados brigam nos tribunais, desde sobre quem tem o direito à marca iPad até sobre a patente da funcionalidade slide nos martphones, ou aquela que você desliza o dedo sobre uma regua virtual para desligar seu aparelho, passando, naturalmente, pela hegemonia dos sistemas operacionais, hoje uma briga entre os gigantes Microsoft, Apple e Google.

Falando em Google, enquanto escrevo leio que a rede social FourSquare, que essencialmente é ancorada na localização física de seus participantes, abandona o Google Maps como ferramenta para aderir a uma solução aberta feita por uma startup…

Isso aí ainda vai ter muita discussão sobre tecnologia, pelos engenheiros e usuarios, mas o papel dos advogados vai crescer.

Já se vislumbra alguma negociação séria. No evento de mobilidade que acontece em Barcelona, todos menos a Apple sentam-se a mesa para começar a negociar um novo padrão.

Seria ingênuo apostar que dali surgirá a nova e mágica universalidade digital, e que a Apple ficaria isolada com sua arquitetura proprietária. A diferença, agora, que não pode ser ignorada, é que a Apple e seus produtos e serviços já ficaram grandes demais para poderem ser ignorados. Afinal, uma empresa que supera o meio trilhão de dólares em valor de mercado, enquanto tudo isso ocorre, não ficará de fora.

Mas os estrategistas da Apple e seus valorosos engenheiros insistem no modelo fechado. Talvez o melhor exemplo de turrice esteja no seu lindo Facetime, para conexão de audio e video entre seus usuários. O problema é que o Facetime não funciona com o resto do mundo nem com versões anteriores de produtos e sistemas operacionais da Apple.

Resumo da ópera: a história se repete, e estamos provavelmente no meio de uma profunda transformação de ambientes, plataformas e dispositivos, para aplicações que vão mudar e mudar muito.


A diferença agora, no mundo da mobilidade, é que essas transformações abrangerão uma parcela ponderável da humanidade. Talvez a busca por padrões e protocolos de entendimento seja, afinal, não uma estratégia sensata de negócios, mas uma questão de sobrevivência.

orkut deixa de ter razão de existir

Finalmente o Facebook passou o orkut no Brasil em número de usuários. E o orkut está com prazo de validade vencido.

A conferir:

1- Brasil lidera em número de usuários do orkut no mundo
2- Brasil tem menos de 3 %:
 

  •   do número de internautas do planeta
  •   da população do planeta Terra
  •   do PIB mundial

3- Facebook tem, no mundo, 15 vezes mais contas que o orkut
4- Google investe no Google+ e estimula migração de perfis do orkut
5- orkut parou no tempo e no espaço

6- Juntando as pontas de 1 a 5, nenhuma rede social multi função vai ser competitiva na internet global tendo uma porcentagem relevante de 2 a 3% do total possível.

É só uma questão de tempo, e o orkut será peça do museu digital.

Apple: Charme Eterno?

Será que a Apple descobriu o mapa da mina inesgotável? Será que o charme de seus produtos não encontra concorrentes?

Direto aos pontos: Não, o sucesso não é eterno nem garantido e a concorrência está atenta e viva.

Independente disso, alguns fatores não foram bem abordados pela concorrência. A eles:

1- Tudo que a Apple desenvolve e produz deve responder a uma pergunta fundamental: Isso aí vai melhorar a experiência do usário? Se a resposta é não, deleta-se o projeto e começa-se tudo de novo.
2- A apresentação de cada produto ou serviço é sempre um show de marketing, eventos com luz própria, nunca em feiras gigantes. Isso garante exclusividade na atenção ao que está sendo anunciado
3- A mídia espontânea -mas nem tanto- gerada por formadores de opinião que recebem dicas antecipadas mas parciais porém relevantes do que se passa nos laboratórios da Apple. No caso do iPad, isso foi avaliado em mais de US$ 700 milhões, verba de marketing que nenhuma empresa no mundo dispõe para lançar um produto.
4- A ênfase nos detalhes de cada produto são cuidadosamente estudados para agradar compradores compulsivos, fashionistas, engenheiros, tecnófobos e outras tribos com igual atenção.
5- A expectativa dos próximos lançamentos gera animação constante e vendas adicionais dos produtos já existentes.
6- A Apple, por vocação ou junção dos fatores acima, sempre teve o foco na pessoa física, com raras incursões na pessoa jurídica. Assim, não precisou fazer compromissos com grandes contas nem com grandes e sofisticados aplicativos das corporações.

A Apple também se posiciona com muita competência com suas arquiteturas proprietárias, e aparentemente seus clientes não se importam muito com isso. Lá pela década de 1990 a companhia da maçã, patinando por sua sobrevivência, tentou licenciar a plataforma Macintosh para terceiros, visando aumentar sua base instalada. Foi um fracasso total, obrigando-a a uma retirada nada estratégica de volta ao velho caminho do exclusivo.

Esse posicionamento histórico tem seus riscos, mas eles são menores do que desejaria a concorrência.

Por exemplo, analistas são unânimes em apontar que nos próximos anos (3 a 5, dependendo da análise), a plataforma iOS será apenas a terceira mais usada em smartphones e tablets, atrás do Android, do Google e do Windows Phone, da Microsoft.

É provável que isso aconteça, mas é bom lembrar que o Android tem e terá centenas de versões e de fabricantes nas mais variadas partes do mundo. O Windows Phone será um pouco mais controlado, mas assim mesmo distribuido por múltiplos fabricantes globais.

Já a Apple seguirá sendo única. Em qualquer caso, seus smartphones e tablets tenderão a permanecer no topo da lista dos mais vendidos, contra todos os outros, isoladamente.

Parece claro ainda que na área de música e vídeo, a liderança fica com a Apple por um bom tempo. Nos notebooks, esse não é o caso, mas o topo do mercado, exatamente o mais lucrativo, percebe cada vez mais a atratividade dos Mac. Basta ver sua crescente popularidade em aeroportos, cafés e restaurantes.

Do setor de serviços, agora com o iCloud, vem mais uma tentativa de ser dominante. Sucesso que precisa de uma reinvenção, pois o MobileMe, sua base de lançamento, foi um fracasso total.

Talvez a maior ameaça para a Apple está exatamente no seu imenso sucesso, na medida em que tem mais e diversificados produtos e se propõe a ganhar mais e diversificados mercados.

Crescer e manter qualidade, segurança e especialmente controle desses mercados não são tarefas fáceis.

No conjunto da obra, é mais provável que os grandes adversários da Apple estejam mais para uma Amazon do que para uma HP, mais para um Facebook do que para uma Microsoft.

Isso sem falar na NBT, ou Next Big Thing, acrônimo que acabo de inventar para fins de argumentação. A cada década, o mundo da tecnologia nos brinda com uma nova onda. Nos anos 90, o Google, nos 00 o Facebook, agora, nos 10, ainda não tivemos algo que chacoalhasse o mercado.


Não tivemos? E essa onda da mobilidade, puxada pelo iPhone e pelo iPad? Quem inovará para valer?