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Veneza quer se separar da Itália

VeneziaA romântica e bela Veneza, ponto de referência para muitos roteiros de turismo na Itália, pretende usar a tecnologia para voltar a ser uma república independente, tal como o foi por mais de um milênio.

Eleitores locais convocaram um plebiscito pela internet, consultando os moradores da cidade e da região do Veneto sobre esse tema. A justificativa é que a Itália não funciona dreito como um país, e que não é justo que os venezianos sejam obrigados a pagar por uma estrutura de governo arcaica, inchada e inútil.

Do ponto de vista legal, tudo indica que esse movimento não tenha valor, e sirva apenas para agitar a opinião pública. Mas, no primeiro dia após seu lançamento, mais de 500.000 eleitores da região se manifestaram. É possível votar através do link Plebiscito.eu até esta sexta, 21.

Do ponto de vista histórico, Veneza foi um importante centro comercial e financeiro no Mediterrâneo, a conexão com o resto do mundo então conhecido. E Veneza hoje, ao vivo ou através de fotos ou vídeos, é associada a esse passado. Não parece high-tech

Assim, soa no mínimo surpreendente a iniciativa do plebiscito. Mais do que efetivamente gerar de fato a secessão, mesmo com a manifestação majoritária a favor, ao fim e ao cabo, Veneza seguirá sendo italiana.

Mas, de novo, a tecnologia provoca. Assim como as manifestações da chamada Primavera Árabe modificaram as forças políticas de vários países do Mediterrâneo, esse plebiscito virtual, incomparavelmente mais civilizado, marcará um novo debate sobre o papel dos Estados na vida dos cidadãos. Já se fala em Declaração de Independência e empresários consideram deixar de pagar impostos a Roma, se a maioria votar sim.

É pouco provável que ele seja replicado para outras regiões da Itália ou mesmo para outros países, mas a marca da manifestação ficará. Mostra, também, pela repercussão do tema nas redes sociais, que a política nas grandes democracias tende a mudar, com mais participação do cidadão.

Esse recado não pode e não deve ser ignorado por quem disputa eleições lá e cá. O mundo está mudando rapidamente, e a tecnologia é um poderoso vetor. Em Veneza ou aqui.

Plebiscito: Que tal pensar em usar a tecnologia?

As manifestações populares levaram as autoridades federais a propor um plebiscito, para determinar os rumos da chamada reforma política.

Fazer valer a vontade popular, através de uma consulta bem feita, sem qualquer viés, não é tarefa simples, pois o momento exige respostas rápidas, mas que não podem ofender a base de nossas instituições. E tema vem se arrastando desde a promulgação da Constituição de 1988. Entra ano, sai ano, e o aprimoramento de nosso sistema político fica no limbo.

Falar de política, porém, não é focos desse comentário sobre tecnologia. Mas cabe uma provocação, talvez não para um possível próximo plebiscito, mas, quem sabe, para daqui a alguns anos:

Que tal instrumentalizar futuros plebiscitos e referendos com uma plataforma tecnológica? Lembremo-nos que caminhamos para uma população totalmente conectada, cenário onde temas centrais poderiam ser propostos através de consultas populares usando a tecnologia digital.

Nada parecido com os paredões de um Big Brother da TV, que decidem quem fica e quem sai da casa.

Também não é nada parecido com a tal da democracia direta, onde os nossos representantes eleitos seriam dispensáveis.

Trata-se tão somente de usar a tecnologia, associada a um arcabouço legal inteligente, para tornar as consultas populares mais fáceis, seguras e baratas de fazer, quando oportunas.

Não dá para tentar fazer em 2013, 2014. Talvez nem nessa década, dadas as múltiplas variáveis que precisam ser consideradas. Mas o mundo muda rápido, a tecnologia é um poderoso vetor de transformação da economia global, da geração de emprego e renda, do bem-estar da sociedade e do indivíduo. Por quê não pensar em usá-la para aprimorar nosso sistema político?

Hoje em dia já temos as pesquisas de opinião sobre candidatos a pleitos futuros e, embora algumas possam parecer enviesadas, elas são importantes termômetros da campanha, para eleitores e candidatos. São consultas feitas online, via telefone.

Os diversos grupos que se organizam pelas redes sociais em volta de um tema são outros exemplos da democracia digital surgindo de forma espontânea, que vieram para ficar.

Já participei de várias palestras onde, ao final, são propostas questões sobre os temas discutidos e a platéia responde em tempo real, usando dispositivos específicos ou smartphones. É um plebiscito para uma público bem menor, mas o princípio é o mesmo.

Não custa começar a pensar em formas de estruturar a plataforma oficial para plebiscitos e referendos. Melhor começar o quanto antes a desenhar as possibilidades de aprimorar a democracia usando a tecnologia para termos, lá adiante, uma versão moderna da Ágora (Agorá) grega.