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Antes era o caos!*

DoOutroPlaneta-Vovô, é verdade que um dia não existia a internet?

-É sim, minha netinha, já vivemos sem a internet.

-Mas e aí, como as pessoas faziam para se comunicar?

-Bem, antes tinha telefone grandão em casa, coisa rara e cara, pouca gente tinha, mas funcionava!

-Mas dava para postar mensagens nesses telefones?

-Não, era assim: a gente falava com hora combinada, pois precisavam as duas pessoas estar cada uma em um lugar certo para a gente poder conversar.

-E as mensagens??

-Bem, aí era preciso mandar uma carta, ou um telegrama, mais recente um telex, que era rápido, e até há poucos anos, tinha o fax, que chegava na hora!

-Pera aí, vô, me explica melhor! Nunca ouvi falar dessas coisas…

-Bem, uma carta era uma coisa que a gente escrevia numa folha de papel bem fininha, para não pesar muito, colocava num envelope e levava até uma agência do correio, que providenciava que ela chegasse até o destino. Isso podia levar dias, semanas, meses, ou até nem chegar. Já um telegrama era tipo um torpedo, um tuite, mas precisava ir até a agência do correio para mandar, e a resposta, quando vinha, era entregue pelo carteiro em nossa casa. Era bem caro! O telex foi um baita avanço! Era assim:…

-Vô, acho que você não tá falando sério! Faz quanto tempo que a internet existe?

-Olha, a internet como você conhece é coisa de um pouco antes de você nascer. Antes disso, era algo caro, precisava ir a uma loja chamada lan-house para poder usar a internet, e por pouco tempo, pois era caro!

-Quer dizer que as pessoas tinham que ir até um lugar para usar a internet? Eu pensava que ela ‘tava em todo lugar…

-Não, não ‘tava!

-Hmmm… então… então como as crianças faziam para conversar com outras crianças quando elas não ‘tavam na escola ou na festa de aniversário?

-Não conversavam, só em casa, quando os amiguinhos, os primos, os vizinhos vinham ou elas iam nas casas dos outros.

-Vô, me conta, você veio de outro planeta??

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*A conversa ocorreu, e aqui está uma síntese de um longo papo com minha neta Beatriz, então com 8 anos.

Sexta-feira à tarde, aeroporto de Congonhas, SP, com D. Pedro II

ImagemSexta-feira à tarde, aeroporto de Congonhas, SP. Numa sala VIP, aguardando embarque para Curitiba. Conto dezessete pessoas, fora eu e as três atendentes.

Chama minha atenção um fulano com índice de massa corpórea elevado, agitado, falando com alguém sobre algum problema de um lote de roupas que não havia chegado e o cliente chiava. Detalhe: o cara era o único a falar ao telefone, por acaso um smartphone.

Acaso? Olho a meu redor: As atendentes atendendo, o cara esbravejando, três pessoas vendo alguma coisa na TV da sala, três outros com seus tablets de 10″, mais um com um mini alguma coisa de 7″.

Os demais, nove ao todo, furiosamente interagindo com seus smartphones, fazendo sei lá o quê, exceto… falando ao telefone!

Veio-me à mente o encontro que nosso imperador, Pedro II, teria tido com Alexander Graham Bell, o inventor do telefone, na Exposição Mundial de 1876, em Filadélfia, com seu produto já patenteado e à venda.

Bell numa ponta da sala, D. Pedro na outra, começaram a conversar via telefone. D. Pedro: “Meu Deus, isso fala!

Realidade ou lenda urbana, pouco importa. Volto rapidamente com D. Pedro para 2013, no lounge de Congonhas. Olhamos para a turma com seus aparelhos, os nove originais mais o gordo falante que, desistindo da argumentação oral, aparentemente redige um e-mail para alguém. Pronto! todos os dez que estavam com os smartphones nas mãos faziam algo, menos falar.

D. Pedro ficou intrigado, ao ver a evolução daquele invento maravilhoso, 137 anos depois, e que não era mais usado para falar.

Ele, sujeito letrado, faria a análise semântica do substantivo “telefone” e diria que essa engenhoca que os dez da sala estavam a mexer poderia até ser um tele alguma coisa, pois estava servindo para mandar e receber letras e números à distância, mas ele não via ninguém falando, logo o “fone” não faria sentido algum.

Aí alguma alma com pena do imperador diz que ele estava à frente da maravilha da eletrônica digital, o smartphone! E D. Pedro, poliglota, que teria até corrigido alguma coisa que Bell lhe falara em inglês diria: “OK, eu compro o conceito do smart, pois uma coisa dessas minúscula assim e fazendo tantas coisas é necessariamente esperta! Mas o phone, não acredito… Se ela fala, como a que eu vi com meu amigo Alexander, em Filadélfia, por quê nenhum de vocês a usa para falar?

Alguém se dispõe a responder a dúvida de D. Pedro, talvez propondo um nome melhor para o smartphone?

Tecnologia Digital e o Significado das Palavras

Para refletir sobre a evolução da tecnologia digital, vamos trabalhar com oito palavras que há poucos anos tinham significado principal radicalmente diferente do que temos em 2010.


Acompanhe comigo:

Arquivo: antigamente, ou uma pasta cheia de papel ou muitas pastas dentro de um armário de madeira ou metal. Muito infectado por cupins. Mais recentemente, informações estruturadas armazenadas em cartões perfurados, fitas magnéticas, disquetes de vários tamanhos e mesmo em CDs, DVDs e discos magnéticos, infectados por vírus eletrônicos. Hoje a maioria dos arquivos está guardada na nuvem (vide verbete), como suas mensagens do GMail, do Yahoo ou do MSN.

Enciclopédia: Em 1768 foi lançada a Enciclopædia Britannica, com inusitados três volumes. Duzentos anos depois, a Britannica tinha 25 volumes, isso no rebelde ano de 1968. Hoje, enciclopédia é a Wikipedia, que, na sua versão em inglês tem incríveis 3.319.499 artigos publicados (e crescendo a cada minuto), sem contar suas outras 31 edições em diferentes línguas, inclusive o Esperanto.


Correio: No meu tempo de jovem, Correio era algo para você inventar uma desculpa de não haver recebido uma carta, a “Culpa do Correio” era subjetivamente aceita como verdade ou faz-de-conta. Nos anos 80, começou o “Correio Eletrônico”, que já criou mais de 100 bilhões de contas, ou seja, quase 20 contas ativas para cada ser humano, alfabetizado ou não, conectado ou não. Mesmo o Correio Eletrônico sai da moda, dando lugar às mensagens instantâneas e ao bate-papo digital, ou “Chat”.


Computador: Em 1943, o presidente da IBM, ao anunciar o primeiro computador produzido pela empresa, declarou que o mundo não teria mercado para mais de cinco computadores. Hoje, contando computador de mesa, laptop, smartphone e outras bugigangas, mais de 200 milhões de domicílios contam com cinco ou mais desses dispositivos digitais. E um carro de 2010, razoavelmente moderno e equipado tem mais poder computacional que as naves do projeto Apollo, que levaram o homem à Lua, 41 anos atrás.

Telefone: Quando D. Pedro II viu pela primeira vez um telefone funcionando na Feira de Nova Iorque de 1876, disse “Meu Deus, isso fala!”, e trouxe a novidade para o Brasil. Pois o tal do telefone levou mais de 100 anos aqui para aprender a falar, passando antes pela fase de bem de capital cotado em dólar, que os mais afortunados alugavam aos mais necessitados a 3% ao mês e declaravam ao imposto de renda. Hoje temos mais celulares ativos do que brasileiros, e, passada a fase da voz, o tráfego de dados já supera o falatório.

Mala Direta: Quando o Correio deixou de servir de desculpa às pessoas, os marketeiros sacaram a idéia de mandar propaganda impressa direto aos domicílios. Hoje essa prática ainda é forte, mas, no mundo digital, virou o tal de “spam”, ou mensagem espalhada aos trilhões nas caixas de e-mail do planeta. Em breve, os marketeiros descobrirão o valor da imagem de uma empresa que não incomoda seu cliente, mas que, quando ele precisa, vai dar as informações que ele quer. Será a “onda verde” na qualidade da informação.

Rede: Nos bons tempos, um artefato de tecido ou corda, usado para ser pendurado entre dois pontos e servindo para o balanço reconfortante de seus usuários. Depois da internet, tudo é “rede”. Mas, dessa rede global, não há escapatória: Ou você está lá, ou provavelmente já morreu, sempre por fora do que está se passando no mundo.

Nuvem: No céu curitibano, é coisa que dificilmente deixa de aparecer, e aqui é quase sempre molhada. No mundo digital, significa um lugar indefinido, para você, onde estão armazenados seus dados e seus aplicativos, como, por exemplo, seus e-mails, fotos do Picasa, vídeos do YouTube. Estão na nuvem, mas quando você precisa, eles aparecem. Uma tendência para todos os aplicativos que hoje travam e dão problemas em sua casa ou escritório.

Numa próxima revisãode conceitos, dentro de alguns anos, essas definições de hoje poderão parecer defasadas, antiquadas. Não se assuste! Busque apenas se manter minimamente antenado, pois o impacto no seu dia-a-dia pessoal e profissional seguirá mudando rapidamente.

Ou seja, quando o assunto é tecnologia digital, a única coisa que não muda rapidamente é a própria mudança…

Usando Tecnologia Para Apagar Lampiões

Na virada do século 19 para o século 20, as cidades brasileiras começavam a ganhar iluminação elétrica nas ruas, substituindo os poéticos mas malcheirosos lampiões a gás ou querosene. Acabavam também os empregos dos acendedores desses lampiões, sem contar as românticas paqueras que faziam às domésticas.
Como o movimento sindical começava a engatinhar, houve pressão junto ao governo e às empresas para suspender a iluminação elétrica, por conta da legião de acendedores que seriam desempregados, deixando milhares de famílias sem pão.
Mais tarde, nos meados do século, apareceu o telefone com disco, que dispensava as telefonistas nas ligações locais. Nos anos 70, com a disseminação do DDD e do DDI, nem mesmo ligações interurbanas e internacionais precisavam de intermediárias humanas para completá-las.
Quando chegaram os computadores, a idéia era que, como “tudo que puder ser automatizado, será”, então milhões de empregos evaporariam.
Chegando a 2010, vemos que esses postos de trabalho deixaram –felizmente- de existir, ou migraram para outras formas, como, por exemplo, os milhões de operadores de call-centers que nos atormentam a vida e que não existiriam se não fossem os computadores e as comunicações automatizadas.
O número de empregos cresceu sempre com o avanço da tecnologia. Os reacionários contestadores da Revolução Industrial na Inglaterra do século 18 ficariam pasmos se pudessem antever o que ocorre nos dias de hoje.
Assim, falham redondamente desde sempre os analistas-profetas que baseiam suas predições na linearização do futuro em cima das condições do passado e do presente. Nada a ver…
Toda essa longa introdução é para mostrar que, via de regra, erramos ao projetar o futuro e traçar estratégias pessoais, profissionais e empresariais baseadas naquilo que já conhecemos ou no que o concorrente vem fazendo.
As grandes mudanças que transformaram o mundo não foram projetadas para tal. Um exemplo disso é a internet, que foi concebida como uma rede alternativa para o sistema de defesa norte-americano nos anos 60, dado o receio dos chefes militares de uma sabotagem dos inimigos soviéticos no sistema comercial de telecomunicações. Quando ela se espalhou e ficou muito cara e ociosa, houve a decisão de abri-la ao mercado.   O resto é história que pode ser checada na Wikipedia ou buscando as palavras-chave no Google.
Dois exemplos tecnológicos que valem a pena comentar para melhor ilustrar o ponto: Na década de 40, o presidente da IBM, Thomas Watson dizia que haveria um mercado global para, talvez, cinco computadores; nos anos 90, quando projetada a rede celular do Paraná, a estimativa dos técnicos era que mercado não comportaria mais que 5.000 aparelhos habilitados. Sem comentários.
Eu vejo, no mundo corporativo, um excesso de preocupação com a modernização de processos e projetos baseados na realidade pré-TI.  Não que usar computadores e internet seja uma furada, na maioria dos casos, mas o retorno sobre o investimento demora muito mais do que se imagina, muitas vezes criando não mais que uma camada adicional de burocracia com mais custos.
Poucos são os que pensam em inovar seus negócios com os recursos existentes da tecnologia da informação. Inovar de forma transformadora. Para provar esse ponto, basta pegar o ranking das maiores empresas globais ou brasileiras de 2009 e compará-las com as de 1999 e 1989, só para ficar nas duas últimas décadas. A brutal modificação dos nomes, dos ramos de atividade e da sede das empresas dá o que pensar.
Sem querer sugerir que caminhos tomar, pois se eu os conhecesse já os teria trilhado, mas será que não há uma atitude dos empresários de 2010 muito semelhante à dos acendedores dos lampiões de rua de um século atrás, enxergando só o retrovisor e não o que está à frente?
Pense nisso, ao planejar seus investimentos em tecnologia. Olhe o ranking das empresas como sugeri acima e pense de novo.
Acender e apagar lampiões empresariais em pleno século 21 é atraso de vida…
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