Concentrando os atores
Duas notícias no mesmo dia sacodem o mercado: A HP desiste do mercado de desktops, notebooks, netbooks, tablets e smartphones; a Nokia anuncia o abandono de seu sistema operacional campeão de vendas, o Symbian.
A surpresa vinda da HP é pelo timing. No que toca aos computadores, o avanço dos asiáticos de baixo preço, especialmente no mercado da pessoa física espremeram demais as margens. Lembrando da IBM anos atrás quando passou o boné para a chinesa Lenovo, mas embolsando uma graninha. Agora, nem isso.
Nos tablets e smartphones a HP nem chegou a decolar. Meses depois de fazer uma nova aposta no renomeado WebOS, sistema operacional herdado da adquirida e pioneira Palm, era estratégia ousada da companhia ser uma alternativa viável aos competidores iOS, Android e Windows Phone. O recuo soou como algo mal planejado. O mercado bateu pesado no valor das ações, na sexta, e, já na segunda, sinalizava com uma recuperação parcial. Algo como que susto! ao saber das novas seguido de um talvez não tenha sido tão mal assim.
Os chamados consumíveis, um eufemismo para cartuchos de tinta e toner para impressoras seguem gerando caixa para a HP, mesmo com a concorrência acirrada. E a área de serviços segue embalada. Aqui, de novo, parecido com o que vem fazendo a também gigante IBM.
Já a Nokia, ao dizer que acaba a produção de celulares com Symbian para o mercado da América do Norte assume que a evolução desse sistema operacional está congelada e dá ao mesmo tempo um poderoso aval e incentivo aos concorrentes e deixa evidente que aposta todas suas fichas na plataforma Windows Phone, da sua parceira Microsoft.
Então dá para assumir que os smartphones vão acelerar suas taxas de crescimento e que as vendas de tablets -mercado inexistente até o primeiro trimestre de 2010- também disparam.
E a definição da próxima bola da vez, para mim, está definida: a RIM, fabricante do Blackberry, hoje sucesso de público no mercado corporativo, vai ser fortemente pressionada pelos atores gigantes. Não será novidade se ela for, finalmente, adquirida por algum desses mencionado aí no início do post.
Ah! Não podemos esquecer o também recente anúncio da compra da Motorola Mobile pelo Google. movimento no mínimo estranho para um gigante que produz o Android como plataforma aberta e agora sinaliza que pode turbinar as vendas de smartphones fabricados em casa, em detrimento de seus muitos parceiros globais,
A concentração dos fornecedores deve se acentuar. Quem ganha? Quem perde? Façam suas apostas!
Usabilidade: Um Evento para aprender ou rever conceitos
O nome é complicado, mas o tema, importantíssimo: 4º Simpósio Internacional de Usabilidade e Experiência com o Usuário. Daí eu não só estou fazendo a divulgação do evento como também estou decidido a participar. Semana que vem, 16 e 17 de novembro, em São Paulo.
Explicando melhor: a imensa maioria dos produtos e serviços ofertados no mundo digital falham fragorosamente não por ter limitações técnicas ou por deixarem de entregar aquilo que propõem. É que a coisa gerada é difícil de usar, complicada de entender, ou leva muito tempo para se chegar onde é necessário, ou ainda distrai o usuário com informações, imagens, menus, links desnecessários.
Uma coisa que aprendi nos últimos anos foi a mágica da Apple. Nada a ver com um marketing brilhante ou com a superioridade intelectual do Steve Jobs. apenas a proposta dos produtos e serviços da Apple são centrados no desafio de melhorar, por vezes reinventar a experiência do usuário. Basta ir em www.apple.com e buscar pela expressão user experience e ela vem por exatas 491 ocorrências, cobrindo todo o leque de ofertas da empresa.
O que poucos se dão conta é que a Apple também dá tiros n’água. Alguns de seus produtos precisam ser revistos em várias gerações até pegarem com o mercado. Outros simplesmente somem da lista de ofertas e silenciosamente acabam no ostracismo. Mas é essa obsessão com a experiência do usuário, impregnada na cultura da companhia da maçã que faz a diferença.
Isso tem a ver com usabilidade.
Com a disseminação da internet, já com 2 bilhões de seres humanos acessando regularmente, e a rápida universalização dos celulares, também nessa ordem de usuários, muita coisa mudou. As ofertas precisam ser encantadoras, simples, de entendimento trivial, sem exóticos e complexos manuais do usuário que ninguém lê, muito menos entende.
Esse simpósio deveria ser de participação compulsória de profissionais de TI. Ao menos um sumário dele deveria ser postado na internet seguido da criação de um ENEU (Exame Nacional de Ensino de Usabilidade), ou melhor, um EIEU, o I de internacional.
Todo profissional do setor deveria ter os conceitos básicos de usabilidade permeados em seu DNA profissional. Afinal, o mundo mudou muito desde os primeiros computadores pessoais que tinham muitas limitações, eram caros e usavam sistemas operacionais baseados em caracteres, como o CP/M e o MS/DOS.
Aí uma empresa inovadora chamada Microsoft popularizou uma interface baseada em janelas (sim, o Windows), que não foi inventada nem lançada no mercado por ela, mas o encantament do usuário veio de sua bem sucedida estratégia de produto.
Na área de telefonia celular, tudo era maravilha para a Nokia e Motorola, e a regra eram aparelhos cada vez menores que tivessem a bateria com carga mais durável. Isso até que os canadenses da Research In Motion inventassem o conceito do Blackberry para o mundo empresarial.
Um dia a Apple foi ao mercado com um novo produto, o iPhone, com sua tela sensível ao toque e uma interface gráfica belíssima, mas totalmente derivada de outro produto, o iPod, já um sucesso entre os players de música portáteis.
Para mim, o iPhone é uma referência em termos de usabilidade. Discuto apenas a validade de seu nome. Como usuário de um, só não consegui ainda entender a razão do nome. Para mim, o iPhone é muito pouco phone, menos de 5% do que eu uso. Mas isso não tem a ver com experiência do usuário, e sim com estratégia de marketing. Ou a Apple ainda crê que o iPhone é um telefone celular…
Voltando ao simpósio, duas provocações aos leitores deste blog:
1- Como usuário de produtos digitais, ou nem tanto, quantos deles você já descartou por absoluta falta de usabiliadade?
2- Se você é profissional que desenvolve produtos e serviços para o mercado de TI ou para qualquer outra oferta no mundo digital, respire fundo e pense: se você estivesse do outro lado da mesa, como comprador ou futuro usuário, que nota você daria para a usabilidade?
Então, vá ao Simpósio!
P.S.: Não gosto do termo usability. Fico com user experience. Usability não tem muito a ver com usabilidade para os bilhões de usuários de produtos e serviços digitais.
IFA 2010: Ode ao consumidor digital
IFA 2010 é a maior feira de eletrônica de consumo da Europa e está rolando em Belim até quarta, 8 de setembro e representa o contraponto da CES de Las Vegas, que abre o ano mostrando novas tendências. Ao contrário do mercado americano, os europeus são mais exigentes, conservadores e de mão no bolso antes de comprar qualquer gadget. Este ano, eles estão sendo submetidos a uma pressão enorme dado o lançamento de muitos novos produtos e, especialmente, pela consolidação de fornecedores que até poucos anos atrás, estavam só no mercado empresarial e profissional, as empresas de TI.
Para variar, a Apple não está lá com stand próprio, mas os fornecedores de acessórios para iPad, iPhone, iPod e os concorrentes desses produtos não deixam a empresa da maçã mordida ausente do trecho. Ao contrário, mostram que o mercado de música, vídeo e livros digitais está em sua fase adulta, quando devemos esperar não só maior variedade de ofertas mas especialmente uma queda forte de preços, por conra da briga por market share.
A novidade marcante este ano está na disputa dos tablets, que muita gente tentou mas que só virou febre depois do lançamento do iPad. Muitos produtos novos e promessas de futuros lançamentos parece sinalizar para a consolidação desse tipo de produto, com tela sensível ao toque entre 7″ e 11″ e sempre com muitas funcionalidades e enorme gama de conteudo.
A Amazon, por exemplo, já tem um sucessor (ou um upgrade, conforme a análise) do Kindle, que deixa de ser um mero leitor de livros digitais para incorporar novas funcionalidades, e, embora com tela monocromática mas sensível ao toque vem com três apelos fortes: preço lá no porão, peso um terço do iPad e durabilidade da carga da bateria medida em semans em vez de horas.
Em outro segmento, a TV digital parece sinalizar para valer a chegada da 3D, com muitos novos lançamentos e funcionalidades. Isso pode significar um ciclo de vida e de produção mais curto para os televisores de alta definição LED, LCD e plasma, mas 2D, ainda mais com a popularização de simuladores de 3D nos players BluRay mais recentes.
Num panorama mais amplo, podemos ver que o grande movimento de placas tectônicas que antes separavam o mundo pessoal do corporativo parece sinalizar para a mistureba total. Se antes Sony, Panasonic, Philips e outras iam em busca do mercado empresarial, a Apple puxa o carro e arrasta junto Microsoft, IBM, HP e outras tantas, sempre ávidas de novos mercados. Isso sem falar na turma de telecomunicações, hoje fortemente influenciada por chineses e coreanos mas anda com forças dominantes como Nokia e RIM.
Se devemos imaginar futras consolidação de empresas pela chegada da tal da convergência, o ponto maior em jogo é que o foco dessas empresas recaiu sobre a pessoa física, que cada vez mais será tentada e adulada.
É um jogo do ganha-ganha. Ou é isso que eu gostaria de ver…