Sábado, Boston Globe; Segunda, Washington Post. E agora?
Nem deu para esfriar a notícia da venda do Boston Globe pelo New York Times, e agora, nesta segunda, vem a notícia da venda do Washington Post para Jeff Bezos, o chefão da Amazon.
O valor foi um pouco maior, US$ 250 milhões, e a aquisição foi feita por Bezos, como pessoa física. Mas é impossível dissociar esse negócio das transformações da era digital.
O Post ficou famoso pelo jornalismo investigativo, que divulgou o escândalo da espionagem dos agentes de Richard Nixon no escritório do Partido Democrata no complexo de edifícios Watergate, em 1972. Dois anos depois, Nixon renunciacva.
Será que dois negócios envolvendo grandes jornais americanos podem sinalizar o fim de uma era? Afinal, o New York Times comprou o Boston Globe por US$ 1,1 bilhão há 20 anos e agora o passa adiante para adiante para o dono de um time de beisebol por meros US$ 70 bilhões, e, passado o domingo, o bilionário dono da principal empresa de comércio eletrônico arremata mais um ícone das notícias.
Mas é bom lembrar que nem sempre essas aquisições dão certo. Lá atrás, ainda no final do século XX, a America OnLine – AOL, então líder do mercado de serviços de correio eletrônico investiu bilhões na compra da Time-Warner, então o maior conglomerado de mídia do planeta. Anos depois, a AOL é irrelevante, e os sucedâneos da Time-Warner ainda sobrevivem.
Já o e-mail dá sinais de cansaço, substituido por mensagens instantâneas e redes sociais, quase como o vetusto fax, de poucos anos atrás.
Pode ser que Jeff Bezos tenha planos mirabolantes para o Washington Post, ou que queira transformá-lo num hobby pessoal. Pode ser.
Mas também pode ser que ele tenha uma visão de sinergia para a Amazon, que ninguém saiba.
O mais provável, arrisco, é que ele tenha uma visão para alavancar o Post dentro do mundo digital, com prioridade para a versão online e com muita interação com seu público-alvo.
Numa dessas, Bezos vai querer concorrer com uma CNN ou uma Fox da vida, e pode ter planos ainda mais ambiciosos para tratar notícias.
É… as coisas andam rápidas nesse mundo digital!
Deu no NY Times: Jornal impresso pode dar dor de cabeça.
Notícias de negócios normalmente dão trégua nos finais de semana. Só que no universo das comunicações, essa regra não vale. Assim, o anúncio feito pelo The New York Times, neste sábado, 3, sobre a venda da operação do jornal americano The Boston Globe, mostra as dificuldades que os jornais diários enfrentam nesse mundo conectado de 2013.
A união do Globe ao Times durou exatos 20 anos, e, ao ser anunciada, em 1993, indicava uma tendência de consolidação entre os grandes jornais e revistas, numa onda muito bem surfada pelo magnata australiano Rupert Murdoch.
Vale a pena comparar os valores: Em 1993, o Times pagou US$ 1,1 bilhão para comprar o Globe, o equivalente a US$ 1,8 bilhão hoje. Com a venda por US$ 70 milhões, o valor do Globe recuou mais de 95% nessas duas décadas.
E o Globe era e é um jornal muito influente. Será esse um sinal do fim do jornal impresso como mídia relevante?
O mais fácil seria concluir que sim, os jornais diários estão com os dias contados. Mas, nesse mundo cada vez mais digital e mudando cada vez mais rápido, a realidade pode ser diferente.
Assim como a TV não decretou o final do rádio, nem o VHS, o DVD e o BluRay eliminaram o cinema, os jornais necessitam se adaptar aos novos tempos. A consolidação, como no caso do Globe com o Times mostrou não ser o caminho.
Ao contrário, os jornais especializados, no formato tabloide, com notícias curtas e propaganda dirigida a públicos específicos, ganham cada vez mais espaço. E os jornais tradicionais que mais leitores cativam são exatamente aqueles que possuem estratégia principal focada na sua versão digital, com Apps específicos, que ofereçam excelente navegação e possibilidade de customização para cada leitor, inclusive dos anúncios.
Outro ponto de resistência junto aos leitores é a cobrança da assinatura ou do exemplar avulso, quando os grandes portais de notícias, os blogs e as redes sociais estão a contar todas as histórias em tempo real, e de graça.
Em 1993, parecia que essa consolidação poderia dar certo. Mas, na virada do século, com a disponibilização de conexões de internet de banda larga, o surgimento do Google e do YouTube, essa tendência ficou mais do que em cheque. Agora, as mídias sociais, os smartphones e tablets dão novos contornos à missão de bem informar. Adaptar os jornais é preciso!