A Apple lançou o Watch com grande espalhafato, no começo de setembro passado, prometendo as entregas logo no início de 2015. Depois adiou para abril, logo para maio e agora jura que embarca o primeiro milhão de unidades vendidas em poucos dias a partir de junho.
As lojas já exibem o produto para demonstração e testes de clientes, em países selecionados, e a Apple admite problemas na produção e nas vendas acima de qualquer expectativa.
Com certeza, o produto vai dar o que falar. Pode até abrir espaço para mais um gadget que você nem sabia que ia precisar, seguindo a linha de pensamento do grande Steve Jobs.
E a Apple segue sendo uma empresa altamente lucrativa, sólida, esbanjando charme. O Watch é o primeiro produto inteiramente novo projetado e lançado após sua morte.
Mas dá para fazer uma outra leitura.
Ocorre que o conjunto de funcionalidades, tamanho reduzido, preço razoável e capacidade de processamento e de comunicação batem de frente com a capacidade e durabilidade da bateria. Esse foi o principal glitch, e a tentativa de melhorar o que foi anunciado, depois do lançamento, foi infrutífera. O fato é que o Watch não tem capacidade para mais do que 18 horas de funcionamento contínuo, depois precisa reabastecer usando o charmoso carregador com cara de estetoscópio.
O Watch é, pois, o primeiro relógio de produção em massa cuja corda dura 18 horas, ou menos, se você começar a usá-lo para outras coisas que não seja ver as horas.
18 horas de um total de 24 horas/dia. OK, você dorme, seu Watch carrega. Parece um bom acordo. Só que, no mundo moderno, nem sempre é assim. Existem viagens intercontinentais com diversos fusos horários, você pode esquecer de colocá-lo no carregador depois de uma animada festa, enfim, o Watch depende de você ser uma pessoa com hábitos regrados e constantes.
Mas a Apple tem bala na agulha para criar mais uma legião de dependentes até que essa briga com a bateria se resolva.
Enquanto isso, 1 milhão de Watches a US$ 250 cada (ticket médio), são US$ 250.000.000 no caixa da empresa sem que nenhum relógio tenha sido embarcado.
Genial, não? Você não adoraria ser acionista de uma empresa assim?