Milhares, talvez milhões de espectadores -eu incluído- estavam ansiosos para ver a cerimônia de abertura da Copa do Mundo, no Dia dos Namorados, 12 de junho.
Menos pela parte cenográfica montada pela FIFA e mais pelo chute inicial e simbólico, antes da partida Brasil x Croácia, que seria dado por um paraplégico. Ele deveria levantar-se de uma cadeira de rodas, andar cerca de 25 passos e, em seguida, fazer o kick-off da Copa. Tudo isso autonomamente, no projeto global comandado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.
Na prática, nao foi isso que aconteceu. Em fugidios 3 segundos, no meio da dançação toda, sem qualquer menção do cerimonial ou dos narradores da TV, lá estava o jovem Juliano Pinto, 29, usando o exoesqueleto e, dando o chute numa Brazuca. Sem explicações, sem a devida chamada de atenção aos distintos bilhões de espectadores mundo afora.
Tudo bem, a experiência pode até ter funcionado, mas o risco corrido pelo Dr. Nicolelis e sua equipe merece uma segunda chance, e não vale a pena esperar pelo próximo grande evento, as Olimpíadas do Rio, de 2016.
Muitos cientistas se apressaram a criticar Nicolelis, dizendo que a validação de um experimento científico não estaria seguindo os roteiros clássicos, de publicações em revistas especializadas e das explicações sobre como chegou ao resultado, não sob a ótica leiga, mas sobre a verdade da ciência.
Como houve aporte de recursos da Finep, agência do governo federal, vieram também as questões de uso do dinheiro público, dos alinhamentos políticos do cientista brasileiro – que mora nos Estados Unidos, diga-se de passagem.
Mais tarde, ainda no dia 12, Nicolelis deu entrevista ao Jornal Nacional, dizendo que a Fifa limitou o tempo da demonstração e não deixou que o nosso herói entrasse em campo, por conta do peso total do conjunto Juliano + exoesqueleto, que poderia danificar o gramado. Será que isso não teria sido combinado, ou a Fifa é tão onipotente assim?
Depois, em entrevista à Folha de São Paulo, Nicolelis diz que a Fifa roeu a corda e não fez o combinado. A Fifa diz que no ensaio foram dados os mesmos 30 segundos que no dia das abertura, e que passos não foram dados, só o chute, e que o que a TV mostrou não é sua responsabilidade. De quem seria, afinal? A Globo insiste que a geração das imagens é por conta da Fifa.
O fato concreto é que dúvidas ficaram. E elas são fáceis de dirimir. A demonstração completa pode ser em qualquer dia, durante a Copa, convocando a imprensa mundial que se aboleta por aqui para cobrir a Copa e, nas matérias colaterais sobre o Brasil, mais desancam do que “ancam” sobre nossos problemas.
Ou então negociar com Sepp Blatter para fazer a experiência completa após a cerimônia de encerramento. Afinal, a Fifa mostrou, desde os preparativos após a escolha do Brasil como país sede, lá em 2007, que ela dita as regras. Mas, acabada a Copa, encerrada a festa e passado o bastão para o presidente Vladimir Putin, para a Copa 2018 na Rússia, dá para fazer tudo com bastante detalhes, abismar o mundo e dar uma turbinada nas vocações científicas de milhões de jovens brasileiros.
Eu acredito na capacidade do Dr. Nicolelis e de sua equipe. Mais ainda, nos sorrisos de muitos paraplégicos que renovaram esperanças em poder voltar a andar com o anúncio do Walk Again.
Não está em jogo o disse-me-disse nem as versões controvertidas. A prova pública da conquista deve e precisa ser feita. O quanto antes!