O poeta e compositor Antônio Maria, autor de muitas músicas de fossa, definia que “só há uma vantagem na solidão: poder ir ao banheiro com a porta aberta“. Isso nos anos 1960, quando o telefone era peça rara nos domicílios de cidades grandes, o rádio e o jornal os grandes veículos de comunicação e a TV engatinhava.
Nos tempos de Antônio Maria, nada internet, smartphone, rede social. Carta, só via correio, sem essa de email; mensagem instantânea era telegrama, que dependia de coleta e entrega via portador.
Embora, nos dias que correm, aumente rapidamente o número de domicílios com um só morador, a maioria dessas pessoas não sofre de solidão e está conectada digitalmente a outras pessoas. Sua vizinhança é o mundo, não mais o prédio, a quadra, o bairro.
É claro que existe solidão para muitos dos mais de 1 bilhão de pessoas que estão no Facebook. E essas pessoas podem ter sua vida contada e recontada através do Twitter e do YouTube, queiram ou não.
A vantagem da solidão, pregada por Antonio Maria, deixa de existir, ou, ao menos, de ser tão absoluta, como ele imaginava. Basta perguntar a Scartlett Johannson. que se autofotografou nua com seu smartphone, apenas para ter as imagens viralizadas na internet.
Proposital ou acidental? Pouco importa, pois existem essas e outras formas de termos nossa privacidade compartilhada. A mais badalada atualmente, vem das artes de agências de espionagem americanas, bisbilhoteiras no atacado. E isso ainda será fartamente debatido, e, provavelmente, outras arapongagens de outros governos serão reveladas, e nós, cada vez mais conectados, cada vez mais expostos.
No mundo de hoje, existem mais de 3 bilhões de câmeras instaladas em dispositivos móveis. Não tenho a contagem de câmeras de monitoramento, mas Londres, há 4 anos atrás, já tinha mais câmeras capturando imagens do que gente vivendo por lá.
Hoje em dia, devemos agradecer os poucos locais e momentos que temos privacidade plena, que não precisa vir acompanhada da solidão do poeta.
Precisamos, nessas horas, tomar o cuidado de desligar todas as câmeras de fotos e videos, os gravadores de som, os smartphones, tablets e notebooks. Será possível?