O atentado de Boston trouxe à baila o recorrente dilema da liberdade X controle na internet. Esse caso é bastante emblemático, e merece um aprofundamento. Vamos lá:
Para quem quer controlar: as receitas sobre como fazer as bombas com panelas de pressão estariam disponíveis na internet. Qualquer um, em tese, poderia fazer essa e outras barbáries mundo afora.
Para quem quer liberdade: Graças aos dispositivos móveis e câmeras de segurança foi possível identificar e buscar os dois chechenos em um prazo relativamente curto.
Aí os que defendem os marcos regulatórios mostram que a liberdade total é impensável, que é importante saber o que os outros fazem, ao menos no que toca aos crimes previstos em lei. Do outro lado, a liberdade de expressão e da busca da informação é prezada por uma parcela significativa dos pensadores, que mostram que a internet, livre como ela é hoje na maioria dos países (mas não para a maioria da população terrestre, diga-se) faz com que a democracia se aprimore e que os malfeitos sejam cada vez mais expostos e, portanto, menos tentadores.
Aí os controladores dizem que muita exposição leva a dar idéias a quem nem pensaria em pecar, e junto com “o quê” a internet propicia facilmente o conhecimento do “como“. Há inclusive os que advogam que o excesso de exposição no caso de Boston teria dado sinal verde para os subsequentes atos ou intenções de atos em Seattle (tiroteios com mortes) e em Toronto (terroristas capturados antes de explodirem um trem com destino a Nova York.
Gostei do artigo postado por Paige Brown ontem em seu blog Scilogs.
Ela diz, com muita propriedade, que “eu acredito que um dos maiores valores e benefícios da internet e das plataformas de mídias sociai é o papel que elas podem e estão desempenhando no aumento da liberdade de expressão e da palavra.”
Ao mesmo tempo, pondera que “no entanto, com a crescente facilidade de comunicação proporcionada pela internet surgiram crescentes esforços dos governos para policiar os conteúdos online“. E cita matéria de Ryan Gallagher de 2012 no Slate, que vaticina: “uma nova era de cooperação internacional aumentada sobre o policiamento da internet está no horizonte.”
Supondo que a visão de Gallagher seja correta, independente de juízo de valor, um cenário limite que podemos desenhar é o de muito mais controle sobre a individualidade do que na era pré-internet. Até porque o termo “visão” talvez seja indevido. Ele cita um novo programa de monitoramento intenso, feito pelo Homeland Security Department, dos Estados Unidos, e exposto ao público pelo venerando Wall Street Journal.
Ou seja, pela segurança da população, aumente-se o controle. Mas, pelos ditos da maioria das constituições de países democráticos, a liberdade de expressão individual é soberana.
Já a bomba virtual da semana é a invasão de perfis do Twitter. Hackers invadiram o de Joseph Blatter, da FIFA, com tuítes indicando que o cartola havia renunciado por corrupção, para gáudio de milhões de fãs do futebol; no dia seguinte, foi a vez da Associated Press – @AP -, que “noticiou” um ataque terrorista à casa Branca com o presidente Obama ferido, o que despencou as bolsas americanas até o desmentido, minutos depois. Nesse intervalo, muita gente perdeu grana; muita gente ganhou…
Lembrei-me do termo “Democracia Relativa” proposto pelo General Ernesto Geisel, mostrando o caminho da abertura do regime militar; A diferença é que hoje, em pleno século 21 e com a internet permeando parcela significativa da população global, o termo pode estar sendo repensado, não no sentido de abertura, mas de fechadura.
Talvez seja assim mesmo, inevitável, não sei…